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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.260 LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Fado ao sabor da sorte

Letra e música de Valentim Filipe
Repertório de Al Mouraria


Fado…
Fado vida, fado ardente
Fado novo que se sente
Nas cordas duma emoção
Fado….
Fado sina de mulher
Que seja o que Deus quiser
Na mágoa duma canção

Fado de amor e de dor
Doce canto de saudade
Dois amores, vinho tinto
Entornado em liberdade

Fado triste, fado louco
Que façam pouco, é o destino
Fado incerto de um poema
Rasgado num desatino

Fado antigo, fado amigo
Fado corrido ou vadio
Fado que nasce no peito
Como a nascente de um rio
Fado vida, fado morte
Fado de ser ou não ser
Quem anda ao sabor da sorte
Tem de aprender a viver


E quando é já madrugada
O fado toca o destino
Na noite embriagada
O fado é outra vez menino

Manuel de Almeida


Tributo do saudoso poeta
 Carlos Escobar

Era uma vez um fadista
Que tinha o fado na voz
Tinha o jeito do seu jeito
Fado na voz e no peito
No fado cantado em nós

Deu-nos fado, deu-nos vida
Deu o que tinha p’ra dar
Um coração de miúdo
Num sentir d’homem profundo
No fundo do seu cantar

Zé carteiro

Letra e música de Ricardo Anastácio
Repertório de Peu Madureira


Muito falada na Rua da Bica
A história do Zé Carteiro
Menino de muita genica,
Ouvido certo e pé ligeiro

Todo o recado que lhe pediam
Rua abaixo, rua acima
Chegava certo ao destino
A tempo e com estima

Não pensem que o Zé
Foi só um tipo que aí andou
Esperando trocados
Fazendo recados a quem pagou
O Zé foi o carteiro
De tantas cartas e histórias de amor
De tantas vidas e sonhos
Só a sua não entregou


Até que um dia desceu à Ribeira
Pois um senhor de posição
Pediu que visse da lavadeira
E lhe pedisse a sua mão

Ai a sorte foi tão fatal
Ai a sorte tão pouco singela
Quebrou todo o seu zelo
E no peito dele e no peito dela

Ai o amor ficou impossível
Por causa do tal pergaminho
E o Zé afogou sua mágoa inteira no vinho
E não mais entregou a tempo
De tanta embriaguez
Falhou até a carta que dizia:
Partamos hoje meu Zé
Partamos de vez"

Fado Arnauth

Luís Oliveira / Mafalda Arnauth
Repertório de 
Mafalda Arnauth


Anda o vento em brincadeira
Agitando os meus sentidos
À procura da fogueira
Dos meus sonhos esquecidos

No feitiço desta dança
Só não cai quem não se entrega
Que o amor só não alcança
Quem à vida se nega

Dizem que o amor é louco
Mas ninguém lhe diz que não
Quem disser que ama pouco
Mente ao próprio coração

Quem me dera a primavera
Fosse eterna no meu peito
Mas se o tempo não me espera
Eu vivo do meu jeito

Muda do teu modo de vida

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Muda o teu modo de vida
Não venhas a horas mortas
Às tantas da madrugada
Senão, prego-te a partida;
Um dia fecho-te a porta
E tens que dormir na escada

Desculpas já não aceito
Porque são todas banais
E falta-lhes argumento
Mas tomo o caso a peito;
Recorro às vias legais
E desfaço o casamento

Que vais mudar para melhor
Prometes, de volta e meia
Acredito com afinco
Afinal, vais para pior;
Vinhas sempre à uma e meia
Agora já vens às cinco

Lembra que já és casado
Que tens a teu cargo um lar
No qual és rei e senhor
À noite, quero-te a meu lado;
P’ra assim me poderes mostrar
Se me tens ou não amor

Por isso toma juizo
Não penses brincar comigo
Que eu não sou santa nem fada
E mais uma vez te aviso;
Um dia, p’ra teu castigo
Passas a noite na escada

Interior triste

Luís de  Macedo / Armando Goes *fado da saudade*
Repertório de Amália

Silêncio por toda a casa
Horas cansadas sem fim
Lentas canções murmuradas
Tristezas longas de mim

Pinheiros altos erguidos
Ao céu que nunca terei
Silêncios interrompidos
Por saudades que não sei

Um corredor longo e escuro
Uma porta por abrir
Fica tão longe o futuro;
Porquê sonhar sem dormir?

Janela da madrugada

Mário Rainho / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Maria da Fé

Já não tenho gaivotas no olhar
O fresco das manhãs na minha voz
Que música escolher para cantar
A tristeza que vem depois de nós

Abri a minha cama à solidão
À saudade da saudade o abandono
Memórias a chover no coração
A alma desfolhada neste outono

Na esquina do poente o tempo aflito
A noite é conhecida caminhada
E antes que adormeça ainda grito
Teu nome da janela à madrugada

Fado

Natália Correia / Nuno Rodrigues
Repertório de Patrícia Rodrigues

Falam de nós na cidade
Porque dizem que te ofereço
Coisas de que não disponho
Como se fosse maldade
Dar-te os olhos para berço
E os cabelos para sonho

Dizem que quando eu me deito
Contigo, uma lua negra
Vem fazer o casamento
Como se fosse defeito
Saber que a vida não chega
Para o nosso sentimento

Dizem que este desatino
É a maldita lembrança
Do pecado original
Eu só sei que isto é destino
E mesmo que seja herança
É legado natural

Porque é virtude tocar-te
Tu és mais puro que um Deus
Purificas o que afagas
Meu amor, só de afagar-te
A minha mão chega aos céus
E sou mais forte que as pragas

De quem é o mundo?

Letra de Carlos Conde
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível


O mundo jorrou sangue, sofreu dores
Mas venceu o maior dos ideais
O tempo dos escravos e senhores
Acabou de uma vez p'ra nunca mais

O mundo emancipou-se e tornou brando
O fulcro dos domínios, dos alardes
O tempo do que eu quero, posso e mando
Desfez-se na arrogância dos cobardes

O mundo tomou rumo, fez escola
É de todos, a todos nos foi dado
O tempo em que o trabalho era uma esmola
Sumiu-se na vergonha do passado

Ainda há restos de impérios, reis com trono
E bobos que estrangulam gargalhadas
Mas o mundo é do povo, o povo é bono
E não que suportar mais palhaçadas

Fado alexandrino

Carlos Freire / Alfredo Duarte (lembro-me de ti)
Repertório de Maria Teresa de Noronha

Cantava antigamente, p’ra expandir a alegria
No tempo em que vivia risonha mocidade
Tal qual os passarinhos, soltava meus trinados
Ingénuos, descuidados, tudo felicidade

Achei o teu olhar perdido nos meus olhos
Que p’ra mim foram escolhos de tão dura paixão
Hoje já não te olho, já não te quero ver
Basta-me, p’ra sofrer, ver-te com o coração

Porém, assim ceguinha, cega de amor por ti
Nada melhor eu vi que um amor verdadeiro
E se nada mais vejo, nada melhor senti
Pois vendo-te a ti, eu vejo o mundo inteiro

Bailarina

João Mendonça / José Candeias
Repertório de Carlos do Carmo


Baila, baila, bailarina
Ou vem bailar ao pé de mim
Põe um ar de colombina
Eu hei-de ser teu arlequim

Baila na minha cidade
Vai ao céu num rodopio
Desafia a gravidade
Do meu desvario

Baila, baila bailarina
E faz da dança uma aventura
Fecha os olhos e imagina
Uma dança de loucura

Tenho a alma a inventar
Que de cabeça perdida
Sais do palco e vens dançar
Aqui, na minha vida

Baila, baila bailarina
E faz da dança um desafio
Que enlouquece, desatina
Tenho a alma por um fio

Veste rendas e cetim
Põe sapatos de cristal
Vem bailar até ao fim
Que se eu morrer não faz mal;
Vem bailar dentro de mim
Que se eu morrer não faz mal

Fado abananado

Pedro da Silva Martins / Manuel Graça Pereira
Repertório de Catarina Rocha


Temos pena, hoje não dá
Estou fechada para balanço
Querem fado, pois não há
Se não gostam como eu danço


Desculpe lá turista
Bater o nariz na porta
A nossa fadista
Está numa de ir embora;
Diz ela que não canta
Se não for para dançar
Falar, pouco adianta
Pois responde a cantar

Desculpe lá, turista
Também sinto aquilo que sente
A ingrata fadista
Acha que hoje isto é diferente;
Fruta cristalizada
Diz que é só no bolo rei
Já mos mandou à fava
E canta por aí, que eu sei

Desculpe lá, turista
Já tomámos providência
É a sétima fadista
Com esta exigência;
Querem abanar o fado
E nós dizemos que não
Mas o fado, abananado
Já só pega de abanão

Jogo do amor

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravida
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Andas a brincar comigo
A todo, todo o momento
Eu sei de um caso parecido
Que acabou em casamento

Mas olha, toma cuidado
São brincadeiras a mais
Brincadeiras de mau grado
Tornam-se em casos fatais

Julgavas-me fácil presa
P’ra aceder ao teu pedido
Puseste o jogo na mesa
E eu com o meu jogo escondido

Mas vê bem ao que te arriscas
Se eu tomar uma opção
Sei quais são as tuas biscas
E eu tenho os trunfos na mão

Por isso vou-te propor
P’ró jogo ser empatado
Um casamento de amor
E fica o caso arrumado

Hino de paz

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Valentim Matias

Num barquito em sonhos saí a navegar
E quando dei por mim já não havia mar
Tinha aportado a um reino onde o amor é rei
Mas como ali cheguei, não sei

Havia amor p’ra todos
Sem qualquer distinção
O mel brotava a rodos
E não faltava o pão;
Lá não havia guerra
O amor à paz era mais forte
Abençoei a minha sorte


De seguida acordei, triste desilusão
O reino que sonhei era imaginação
Tentei sonhar de novo e o sonho não voltou
E agora, recordando, estou

Que havia amor p’ra todos
Sem qualquer distinção
Que o mel brotava a rodos
E não faltava o pão;
Lá não havia guerra
O amor à paz era mais forte
Abençoei a minha sorte

Cantigas

José Régio / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de Eliana Castro

Ser poeta é achar deleite
Nas suas próprias feridas
Ai dos seios que dão leite
A bocas tão iludidas

Que o filho lhe mal pagava;
Queixou-se-me certa mãe
Nem a vida lhes chegava
Se os filhos pagassem bem

Quem tem um filho apartado
Sofre com dois corações
Um, tem-no em si bem fechado
Outro, à longe aos baldões

Se me lembro de morrer
Certa voz me apazigua
Ouço a minha mãe dizer
Essa vida não é tua

Cria uma mãe seu menino
Cresceu, seguiu novos trilhos
E é p’ra esse destino
Que as mães dão asas aos filhos

Minha mãe, se eu te perder
Farei de branco o meu luto
Que é santa toda a mulher
Que dá poetas por fruto

Fado do exílio

Letra de Luís Manuel
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível


Longe, longe do teu rosto
Fez-se assim noite tão escura
Fez-se Inverno onde era Agosto
Ó meu país de ternura

Rio turvo da emoção
Que dos meus olhos se escoa
A saudade, a sensação
De no mundo andar à toa

O país onde nasci
Mora à beira do mar fundo
Da janela onde cresci
Olha-se o mar, vê-se mundo

Cidade, vila ou aldeia
O chão nosso que perdemos
Nunca terá lua cheia
Neste exílio em que ardemos

Mas um dia, há-de acabar
O gelo desta distância
E havemos de regressar
Ao país doce da infância

Inquietação

Alexandre Rezende / Edmundo Bettencourt
Repertório de Edmundo Bettencourt

Quanto mais foges de mim
Mais corro e menos te alcanço
O meu amor não tem fim
Morrerei mas não me canso

Todo o bem que não se alcança
Vive em nós, morto de dor
Quem ama, de amar não cansa
E se morrer é de amor

Inesperado

Matilde Cid / Júlio Proença *fado proença*
Repertório de Matilde Cid


Foi sem querer que eu te quis
É sem querer que me sorris
E me falas ao ouvido
Às vezes sem perguntar
O amor vem acordar
Um coração adormecido

Não consigo ver quem sou
Nem sei bem p’ra onde vou
Meu amor, ainda é cedo
Cantei, chorei, fugi
Foi assim que descobri
Não te quero só por medo

Penso em ti a toda a hora
Penso em ti p’la noite fora
Não me acordem nunca mais
No meu sonho há liberdade
Não há ódio nem maldade
Quero ir p’ra onde vais

Vejo da minha janela

Letra e música de Luís Tomar
Repertório do autor

Da minha janela eu vejo
Sobre as águas do rio Tejo
Gaivotas esvoaçando
E também os cacilheiros
Transportando passageiros
Que elas vão acompanhando

Vejo o Panteão e a Sé
São Vicente e até
Santa Apolónia e o Cais
Santo Estêvão e a Madalena
Gostava de ver a Pena
Mas está distante demais

Vejo o Chafariz de dentr
o
Não me lembro de momento
De alguns nomes que não digo
Vejo o Chafariz de El Rei
E outros nomes que não sei
Ao pé do Terreiro do Trigo


Olhando o Cais do Sodré
Vejo junto, ali ao pé
A Ribeira e o mercado
E no Terreiro do Paço
O povo num embaraço
P’ra passar p’ró outro lado

Vejo a Ponte e o Cristo Rei
Outros nomes não citei
Desta cidade tão bela
No alto avisto o Castelo
Que panorama tão belo
Vejo da minha janela

Vejo da minha janela
Como se fosse uma tela
Pintada em tom natural
Desta Lisboa que eu canto
Lisboa que eu amo tanto
É Lisboa, é Portugal

Já tive minhas louras tranças

Maria de Lourdes Carvalho / João Blak *menor do porto*
Repertório de Dina do Carmo


Já tive minhas louras tranças
Com lacinhos de encantar
Dizia palavras mansas
Quando menina, a cantar

Vivia, e comigo a fé
Pôs o sol em meu sorriso
Nos meus olhos, teu retrato
Tua boca, meu feitiço

Cortei as tranças um dia
Quando de amor me perdi
Era fogo e mocidade
E nessa hora eu cresci

Tenho na voz alegria
Quando estás tu a meu lado
Tenho tudo que há na vida
Amor, juventude e fado

Triste notícia

Letra de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Maria, estimo bastante
Que estejas bem mais os teus
Eu, ao lançar mão da pena
Quanto sofro, sabe-o Deus


Eu não tenho recebido
Notícias tuas há dias
Mas lembra-te que dizias
Que me qu’rias p’ra marido;
Não me tenhas esquecido
Que o meu amor é constante
E ainda que eu, neste instante
Sofresse um golpe tão rude;
Que estejas bem de saúde
Maria, estimo bastante

Dize se a monda acabou 
E como vai o sôr cura
E se as terras dão fartura
A quem nelas semeou;
Não calculas como estou 
Sofrendo os pecados meus
Não há debaixo dos céus
Uma alegria p’ra mim;
Mas faço votos, enfim
Que estejas bem mais os teus

Eu sofro mais que ninguém 
Nem sei se a vida é já minha
Pois minha alma se definha
Porque morreu minha mãe;
Reza por ela também 
Sempre que fores à novena
A mágoa já me envenena
E é tão grande o meu sofrer;
Que julgava endoidecer
Eu, ao lançar mão da pena

Peço-te com sofrimento 
E também com mil perdões
Que interrompam os pregões 
Para o nosso casamento
Não sabes como é cruento 
Dizer o último adeus
Às mães, porque os olhos seus 
São dos seus filhos a estrela
Não esqueças… reza por ela
Quanto sofro, sabe-o Deus

In labirinto

Luís de Camões / Alfredo Duarte *fado bailado*
Repertório de Lina


A nau que se vai perder
Destrói as mil esperanças
Vejo o mau que vem a ter
E vejo perigos correr
Quem não cuida que há mudanças

Ali depois de acordado
Com o rosto banhado em água
Deste sonho imaginado
Vi que todo o bem passado
Não é gosto, mas é mágoa

Ali vi o maior bem
Quão pouco espaço que dura
O mal quão depressa vem
E quão triste estado tem
Quem se fia da ventura

Um gosto que hoje se alcança
Amanhã já o não vejo
Assim nos traz a mudança
D’esperança em esperança
E de desejo em desejo

Alegria dos céus

Letra e música de Mário Faria da Fonseca
Repertório de Edmundo Bettencourt

Oh Alegria dos céus
Tua luz bendita seja
Quem vive em graça com Deus
Tem aquilo que deseja

Luz divina da alegria
Venha a nós a tua graça
Que a gente possa sorrir
Na ventura e na desgraça

Saudades minhas e tuas

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Daquela idade risonha
Em que toda a gente sonha
Em que toda a gente cria
Trago ainda na lembrança
A saudade duma esperança
Que também sonhei um dia

Era tarde, e ao voltar
Vi que do nosso lugar
Tinha fugido o passado
Havia lama nas ruas
Saudades minhas e tuas
Andavam por todo o lado

Porque a vida foi assim

Leonel Moura / Carlos da maia *fado perseguição*
Repertório de Leonel Moura


Procuro um amor ausente
Mas que está sempre presente
Nas minhas recordações
Porque a vida foi assim
Tudo o que guardas de mim
São meras desilusões

Procuro teus passos agora
E as coisas que nessa hora
Nós deixámos por dizer
E o eco dos teus lamentos
Chega aos meus pensamentos
E o coração vai sofrer

Procuro um amor atroz
Que nos vem falar de nós
Noite e dia sem parar
E a nossa vida vivida
Fez o relógio da vida
Nunca parar de rodar

Mas digo ao teu coração
E a essa tua ingratidão
Que mostras na despedida
Já não te procuro mais
Porque deixei os meus ais
No cais da tua partida

A doutora

André Henriques / Rui Carvalho
Repertório de Cristina Branco


A doutora não terá por aí
Uma cabeça a mais que me dispense?
É que esta pesa, afunda entre os ombros
Não larga o que passou
Não quer saber o que aí vem

A Doutora deve ter por aí
Um braço ou dois a mais, que me abracem
É que estes nem para estender me servem
E a roupa lá ficou, no chão ao sol a engelhar

Eu cá não sou de me queixar

A Doutora não diga que não tem
Uma mãozinha a mais… eu agradeço
As minhas tremem a pedir a conta
E nem para desenhar gestos no ar
Elas me servem

A Doutora assava-me a receita
Será abuso meu?
Só entre nós; 
Um cocktail de sonhos cor de rosa
Às vezes eu nem sei se quero mais
Ao que cheguei

Doutora Paula, eu sou paciente
Que paciência a sua
É que eu não sei o que fazer à sexta
Não me dê alta
E a vida de café e croissant 
P’ra mim não dá

Fada

Letra de Carlos de Vasconcelos
Revisão de: José Fernandes Castro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível


Na luz do teu doce olhar
Deixei o meu coração
Na graça do teu falar
Alojei minha paixão

Nos olhos com me olhaste
Tanto amor eu vi bailar
Senti que me enfeitiçaste
E que me obrigaste a amar

Nas noites que então passei
E nos sonhos que vivi
Confesso que desejei
Viver e morrer por ti

Fiquei tão apaixonado
Pelo teu ar sedutor
Que caminho enamorado
Nas ruas dum grande amor

Zé caloteiro

Domingos Gonçalves da Costa / Carlos Dias
Repertório de Joaquim Cordeiro

Quando eu era rapazote
Já ferrava o meu calote
E entre os meus, não era eu só
Pois o meu pai que Deus tem
Já cravava a minha mãe
E a minha mãe, minha avó

Às vezes uma pessoa
Quer ser séria honrada e boa
Mas vem à mente o rifão
Que diz que é honra dever
E então crava por não querer
Desonrar a tradição

Sou caloteiro
Mas apontem-me o primeiro
Que neste mundo embusteiro
Nunca cravasse ninguém
E vou gozando
Enquanto os credores chorando
Iludidos vão esperando
Pela massa que nunca vem


Fiz um dia um disparate
Cravei o meu alfaiate
E o tipo que era matolas
Com maldade vil e crua
Despiu-me o fato na rua
E fui p’r’a esquadra em ceroulas

Sou sério creiam, não minto
E o ser crava por instinto
Acho um feitio ordinário
E se não pago a quem devo
É que eu sou como descrevo
Caloteiro hereditário

Inconfidências

Tiago Correia / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de Tiago Correia


Os beijos que me dás já não são beijos
São mais de mil sementes a brotar
No tronco mais suave dos desejos
Furtivos como a luz do teu olhar

Por ti, oh meu amor, dispo a raiz
Aquela que vesti a vida inteira
Pergunta à sedução porque te quis
Amar-te tanto assim desta maneira

Das leis inconfidentes da atração
Formamos a matéria do impulso
E damos nossas mãos à tentação
Que dançam quando se unem pulso a pulso

Que o ninho que fizemos p’ra nós dois
Não ceda a qualquer vento do oeste
Senão eu voltarei aqui depois
P’ra te entregar o beijo que me deste

Job

Luís Macedo
Repertório da Amália

Sinto na minha alma o frio
Das pedras que me atiraram
Tenho o coração vazio
E as próprias veias secaram

Sinto em meus dentes o travo
De fruta verde colhida
Tenho o coração amargo
De tanta esperança perdida

Garota da beira mar

José Magalhães / Joaquim Pimentel
Repertório de Adélia Pedrosa

Nasci à beira do mar
Criei-me junto da praia
As ondas vinham beijar
A barra da minha saia

Em noites de lua cheia
Ouvindo as ondas bater
O mar rolando na areia
Até parecia dizer

Ai, canta, canta
Garota da beira mar
O teu destino, o teu fado
É viver sempre a cantar
Foi o mar, sim, foi o mar
Com sua voz fatalista
Que me ensinou a cantar
Fez de mim uma fadista


Agora que sou mulher
Vou cumprindo aquela sina
Que o mar parecia dizer
Quando eu era menina

Cresci, amei e sofri
Fiz do fado o meu rosário
Agora canto p’ra ti
Que és a cruz do meu calvário

Em vez da solidão prefiro o vento

José Alcaria / Arménio de Melo
Repertório de Pedro Lisboa


Em vez da solidão prefiro o vento
Em vez do teu amor quero a saudade
Prefiro o teu sorriso ao teu lamento
Que voa sobre um céu de fim de tarde

Em vez da solidão prefiro a morte
Constância de um amor sempre presente
Se a sorte não me der a outra sorte
Para quê viver, amor, e não ser gente

No gume dos sentidos há uma estrela
Que indica a rota certa aos namorados
E no teu peito, amor, há uma janela
Onde o teu olhar se debruça apaixonado

Meu amor, há um tempo discutido
Que se perde no tempo de nós dois
Porque é que o nosso amor anda perdido
Num tempo que teima em vir sempre depois

Rosas de rubra cor

Leonel Moura / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Leonel Moura

Encontrei a roseira brava
Que eu tanto procurava
Florida e de lindas rosas
Ela me falou de ti
E as saudades que eu senti
Das nossas horas ditosas

Quando o sol clareou
O vento tudo mudou
Mas de nós deixou o amor
Na campina nesse dia
Só uma roseira havia
Com rosas de rubra cor

Ficou firme o meu intento
E os ecos desse momento
Que o vento transportava
Amanheceu novo dia
E no campo ainda havia
Uma velha roseira brava

Bem ou mal

Letra e música de Tozé Brito
Repertório de Carlos Leitão


Tudo o que peço a esta vida
És tu, só tu… e mais ninguém
Pois se acordares sempre comigo
Mesmo que a vida corra mal, correrá bem


Mesmo que a vida meu amor, me corra bem
Tu serás tudo o que quero
Pois terei sempre tudo aquilo que sonhei
Se chegares quando te espero

És o que nunca tem preço, só valor
És o meu terço da paz, o meu amor
Que abrirei todas as noites
Para tu poderes entrar na minha cama
Até o dia raiar

Mesmo que a vida. meu amor, me corra mal
Tu serás tudo o que tenho
Dos muitos sonhos que sonhei e que perdi
És aquele que mantenho

Tu serás a razão desta alegria
És a meu terço de abrigo, a minha prece
Que pedirei todas as noites
Mesmo sem saber rezar
Para que fiques até a vida acabar

Ela há-de ter o castigo

Carlos Conde / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Lucília do Carmo


Sem ter motivo ofendeu-me
Após dar-me sorte crua
E me pôr a alma em brasa
Injuriou-me e bateu-me
Abriu a porta da rua
E pôs-me fora de casa

Presa fácil duma intriga
Julguei-me só na viela
Sem ar, sem luz, sem saída
Não, eu tinha uma amiga
P’ra desabafar com ela
As penas da minha vida

Corri logo a procurá-la
P’ra lhe contar sem demora
Toda a mágoa do meu fado
Não consegui encontrá-la
Havia mais duma hora
Que ela se tinha mudado

Mas como há sempre quem diga
O que a gente quer saber
Mais um golpe em mim desceu
É que a minha grande amiga
Mudou-se p’ra ser mulher
Daquele que me bateu

Casinha portuguesa

Letra de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Tenho cravos à janela
Violetas no quintal
Quem tem flores tem amores
Nas terras de Portugal

Vem comigo Joaninha 
Joaninha d’olhos verdes
Pois não sabes quanto perdes
Em não ver essa casinha;
Toda a beleza se aninha
Em redor e dentro dela
E para enfeitar-te, donzela 
Teu colo de espuma e rosas;
De pétalas cetinosas
Tenho cravos à janela

Fica perto duma fonte
De água límpida, cantante
E que canta a todo o instante
As odes de Anacreonte;
Não há ninguém que te aponte
Neste meu torrão natal
Casinha mais divinal 
E que tenha com mais graça;
Entre o trevo que se enlaça
Violetas no quintal

Quatro casinhas pequenas 
A minha casinha tem
Mas há poemas, também 
Com quatro versos, apenas;
Goivos, dálias, açucenas 
Num labirinto de cores
Engrinaldam, dão frescores
À minha alegre vivenda;
Que tem por simples legenda
Quem tem flores tem amores

Já no teu olhar diviso 
Que deves vê-la, decerto
Como um paraíso aberto
No terrestre paraíso;
Até mesmo profetizo 
Que o nosso amor, sem igual
Nessa casinha ideal
De imaculada brancura;
Há-de vibrar de ventura
Nas terras de Portugal

Vendaval de sonhos

Ricardo Maria Louro / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Celeste Rodrigues *ao vivo*

Há um vendaval de sonhos dentro em mim
Que me grita, que me fala ao coração
Lembro a rua do silêncio onde vivi
Que me aperta quando sinto a solidão

Há um grito pelas ruas da cidade
Que rasga o coração da noite escura
Alguém que se revolta de saudade
Alguém que está faminto de ternura

Há um vendaval de sonhos dentro em mim
Há em mim uma saudade que guardei
Há os fados que cantei e não vivi
Há os sonhos que vivi e não cantei

Sou aquela que viveu e se cumpriu
Sou aquela que viveu e muito amou
Sou aquela que cantou e que sentiu
O vendaval de sonhos que passou

Amo-te muito, criança

Patxi Andion / Versão de António Pinto Basto
Repertório de António Pinto Basto


Amo-te muito criança
E o meu amor vive oculto
Pairando sobre o teu vulto
Como um fantasma a chorar
Já que nasceu no meu peito
Já que viveu iludido
Hei-de guardá-lo escondido
Sem ninguém o suspeitar

Fiz-lhe uma campa de flores
Macia, muito macia
Porque o pobre não dormia
Desde o dia em que nasceu
Coitado, sob essa campa
Onde viveu encoberto
Desperto, sempre desperto
Nem sequer adormeceu

Andei buscando outros olhos
Outros lábios perfumados
Cheio de mimo e cuidados
Para esquecer meus amores
Mas este amor desditoso
Como criança inocente
Velava constantemente
Na sua campa de flores

Andei em noites de lua
Fitando várias estrelas
Para ver se alguma delas
Me dava novos amores
Mas ai, amor insensato
Que então à hora vieste
Nem sequer estremeceste
Na tua campa de flores

Descansa meu filho, dorme
Que é noite na minha vida
E aquela esperança perdida
Já entre nuvens morreu
Adoro junto a meu peito
Que tantas mágoas encerra
Para a descrença da terra
Só tens a crença do céu

Contos da avózinha

Leonel Moura / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Leonel Moura


Daquela casa velhinha
Tão alegre e tão branquinha
Onde eu vivi minha infância
Recordo com emoção
Os anos que já la vão
Nos meus tempos de criança

Ainda tenho saudades
Dos anos da mocidade
Quando eu era pequenino
Dos brinquedos que brinquei
E dos jogos que joguei
Nos meus tempos de menino

Joguei os jogos de então
Com o Zé e o João
Amigos da minha infância
E nos serões à noitinha
Os contos da avozinha
Meu enlevo de criança

Os anos já se passaram
Mas as saudades ficaram
Da minha alegre casinha
Relembro os tempos de outrora
De saudades vivo agora
Daquela casa velhinha

Hoje fiz um poema

Jorge Fernando / Joaquim Campos *alexandrino*
Repertório de Marina Mota

Hoje fiz um poema nas pétalas da flor
Que tu num gesto simples colheste para mim
Escolhi do arco-íris dos teus olhos, a cor
E quedei-me na distância dos teus braços sem fim

Hoje fiz um poema das tuas mãos vencendo
As formas do meu corpo sem gestos estudados
E os meus olhos poetas, nos teus olhos morrendo
Para nascer sem fronteiras nos versos inventados

Hoje fiz um poema tecido no momento
Em que por ti morri, sem antes nem depois
Mas só quando te vejo, se esvai o meu tormento
No mar deste poema, poema sempre a dois

Bailinho da Madeira

Letra e música de Maximiano de Sousa
Repertório de Max

Eu venho de lá tão longe
Venho sempre à beira-mar
Trago aqui estas couvinhas
Pr’amanhar o seu jantar

Deixai passar esta linda brincadeira
Que a gente vamos bailar
P’rá gentinha da Madeira
Deixa passar esta linda brincadeira
Que a gente vamos bailar
Para a gentinha da Madeira


A madeira é um jardim
No mundo não há igual
Seu encanto não tem fim
É filha de Portugal

Vem ver a lua

Tiago Correia / Miguel Ramos *fado helena*
Repertório de Joana Almeida

Vem amor, vem ver a lua
Vem prá noite passear
Dá-me a tua mão tão nua
Tão despida em cada rua
Em cada esquina a tocar

Vem amor, dá-me o compasso
Num balanço ao coração
Dá-me, em forma dum abraço
Para cantar sem embaraço
Uma rima d’ilusão

Vem amor e traz segredos
Que eu não possa desvendar
E no silêncio dos medos
Possas enlear teus dedos
Ao meu jeito de cantar

Vem amor, trina a saudade
Pela madrugada fora
Traz contigo a tal verdade
Que semeias na cidade
Ao bailar de cada hora

Vem amor, amor criança
Doce loucura dum fado
Traz a guitarra d’esperança
Que a cada nota se alcança
Sempre que canto a teu lado

Meus beijos

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Na noturna solidão
Meus beijos de longe vão
Cair mortos a teus pés
Vão no luar irmanados
Correndo loucos, coitados
A noite de lés a lés

Na noite, sonho liberto
E sinto talvez mais perto
O calor do teu olhar
A minha canção vadia
Com a noite magra e fria
Sem te poder encontrar

Quando pela madrugada
Vem a verdade orvalhada
E a fria realidade
Tudo então desaparece
E do que a luz esvanece
Fica somente a saudade

Em frente ao muro

Amélia Muge / André Miguel Santos
Repertório de Carla Pires


Quando o olhar não vê, não se detém
É tarde, faz-se escuro
No que há, no que sou, no que sei
O meu desejo se quedou em frente ao muro
Tudo é igual
Só ele dá sinal de que aqui cheguei

Se o imenso céu
Deixasse ver o que há lá por cima
O que quer o céu de mim
Que daqui só o vejo assim?
Assim tão vasto, sem sentido, sem direção
Será que ele vê algum rumo
Num coração perdido?


Talvez se a vida só fossem as mãos
No descansar nas casas do amor
Da razão, do andar
Mas há um grito que nos pára, que nos dói
Que prende os gestos
E aperta os laços da nossa aflição

Ai, ai, Portugal

Humberto Teixeira / Luís Gonzaga
Repertório de Ester de Abreu

A guitarra lá na terra
A sanfona no Brasil
O meu coração balança
Balança entre os dois
Como nunca se viu

Sei que o fado traz saudade
Que no peito rói, rói, rói
Mas um baião sacudido
É gostoso, é tão bom
Que rói, dói, dói, dói

Ai Portugal, ai, ai
Eu peço perdão
Mas, aqui no Brasil, Portugal
Eu só choro, só danço, só danço baião

Mãos-verdade

Letra de Fernando Lito
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível


Apertadas, entre as minhas
Olho as tuas “mãos-verdade
Há dor, amor e saudade
Nessas mãos cheirando a terra

Há força bruta do malho
A forjar nova campanha
Há silêncios de montanha
A espreitar a força nova

Nessas tuas “mãos” verdade
Há cheiro de maresia
Há fogo, sonho e poesia
Sombras que passam na rua

Nessas tuas “mãos-verdade”
Eu sinto em mim, renascer
O jeito de me entender
A forma de me encontrar

As lágrimas que tu vês

Letra de João Fezas Vital
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

As lágrimas que tu vês
No meu olhar magoado
São amor que se desfez
Palavras em que não crês
Recordações do passado

Quando me olhavas de frente
Ardiam fados sem fim
Agora tudo é diferente
És igual a tanta gente
Que és quase igual a mim

Não queiras limpar-me o rosto
Porque eu não choro por ti
São lágrimas de desgosto
São saudades do sol posto
E dos dias que perdi

Vem

Letra e música de Matilde Cid
Repertório da autora


Aqui me tens p’ra ti com minha voz
E tu, aceitas dar-me a vida
Vamos só nós dois
Desenfreados, loucos
Na pressa da partida
A vida inteira é pouco

Guardei um segredo p’ra te contar
O amor não mede o tempo
Nem espaço, nem lugar
Que nada te perturbe
No verde do caminho
Que importa andar no mundo
P’ra caminhar sozinho

Vem, vem comigo
Não tenhas medo
Fecha os olhos
Segue o instinto do coração
Meu amor confia
Estou louca de paixão
Triste é viver à procura de razão

Triste é vivermos com razão

Olhos tão belos

Leonel Moura / Joaquim Campos *fado amora
Repertório de Leonel Moura

Olhos castanhos tão belos
Que vivem perto dos meus
E os meus olhos ao vê-los
Se enamoraram dos teus

Olhos negros são queixume
Brilhantes como as estrelas
Olhos azuis são ciúme
Rosário de coisas belas

Olhos verdes são traições
São cruéis como punhais
Que ferem os corações
Com versos de amor desleais

Todos os olhos do mundo
Têm encanto e beleza
Oásis de amor profundo
Criados p’la natureza

Adoro a noite

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Quando a noite se faz dia
A minha vida sombria
Fica vazia de sonho
Na minha mente se entranha
Uma escuridão estranha
Que só à noite transponho

Quando vai a madrugada
E o sol reduz a nada
As mais caras ilusões
É quando contra a vontade
Eu me perco na cidade
Ao sabor das multidões

Só quando a noite aparece
É que de novo acontece
Ter razão para viver
É quando sonho acordado
E me vejo em cada fado
Quem gostaria de ser

De noite céu e luar

Mário Rainho / Carlos Macedo
Repertório de Carlos Macedo


Desfiz da noite o novelo
E com seus fios teci
O xaile negro mais belo
Com que o teu fado vesti

Fui depois roubar a cor
Prata brilhante de lua
P’ra te cobrir meu amor
À noite quando estás nua

Assim vestida
De noite, céu e luar
O teu olhar
Torna-se um perigo
Assim vestida
Despertas-me tal loucura
E eu parto nessa aventura
De fazer amor contigo


Das estrelas do firmamento
Eu tirei uma mão cheia
Para enfeitar o momento
Em que o teu corpo me enleia

E do vento um pedacinho
Cortei com gestos singelos
P’ra depois devagarinho
Pousar sobre os teus cabelos

Amar não custa

Sebastião Cerqueira / Jaime Santos *fado da bica*
Repertório de Camané


Quem diz que o amar que custa
Numa voz triste e pesada
Saiba que não me assusta
O amar não custa nada

Não custa vê-la passar
Sem saber que eu existo
Não custa ter de afetar
Que não custa passar por isto

Não custa começar cartas
Sempre com a frase errada
Ter tanta carta rasgada
Que o chão não se pode ver;
Posso não saber escrever
Mas amar não custa nada

Não custam os olhos a luzir
Não custa a boca carmim
Quando a vejo sorrir
Para alguém atrás de mim

Não custa não pregar olho
Na minha cama gelada
Nem os beijos na almofada
Que nunca hei-de confessar;
Não custa nada o amar
E o amar não custa nada

Culinária à portuguesa

Leonel Moura / Alcídia Rodrigues *fado tradição*
Repertório de Leonel Moura


Culinária à portuguesa
É uma coisa divinal
Quando alguém se senta à mesa
Aprecia com certeza
Os sabores de Portugal

Uma boa caldeirada 
Pão e vinho sobre a mesa
Que coisa tão engraçada
Uma boa sardinhada 
Um cozido à portuguesa

Um prato de bacalhau 
E as belas iscas com elas
Assadinho um carapau
Com molho de colorau
Jaquinzinhos e moelas

Feijoada à transmontana
Bifinhos de cebolada
Mas a malta não se engana
Uma açorda alentejana
Um pratinho de dobrada

Um caldo verde quentinho
A fumegar na tijela
Com o belo chouricinho
E um bom copo de vinho
E um arroz de cabidela

Pataniscas e feijão 
E papas de sarrabulho
Da Bairrada um leitão
Açorda de camarão 
Até encher o bandulho

E não podia esquecer
Um belo franguinho assado
Com o garfo ou a colher
Coma tudo o que puder
E depois cante este fado

Barqueiro

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de Alexandra


Tenho um mar de sonhos p’ra te dar
Onde serás barqueiro, se quiseres
Iremos proa feita a não voltar
Olha-me nos olhos e diz: queres?

Se me disseres sim
Serás meu barqueiro amor
E o rio será maior
Que as margens que o prendem
Eu invento assim
O rio que te espera em mim
Que nasce e que corre, enfim
Se tu me escolheres
Eu invento assim
A flor que te espera em mim
Que nasce e floresce assim
Diz-me se queres


Meu céu encoberto e tristonho
Espera os remos firmes que trouxeres
Para me levares ao mar de sonho
Olha-me nos olhos e diz: queres?

Há festa na minha rua

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Está em festa a minha rua
Minha rua está em festa
Esta noite, até a lua
Está cheia, mais luz lhe empresta

Foguetes, arcos, balões
Alcachofras, manjericos
Desgarradas e canções
Fogueiras e namoricos

Vai ser uma noite em cheio
Cheia de carinho e amor
Pois Junho dá-lhe um recheio
De estrelas e de calor

Anda ver a minha rua
Meu pedacinho de céu
Onde a alegria flutua
Serei tua, serás meu

Valsa dos corações errantes

Cátia de Oliveira / Valter Rolo
Repertório de Inês Duarte


Foi p’ra desdizer a sina que vim
Tu és tanto mais do que cabe em mim

Tens dentro de ti o mar mais profundo
E todos os ventos que há neste mundo

E eu por mais que me supere
Só sei que dói e fere este amor

De uma valsa triste nunca nasce
Uma história linda p’ra contar
Fica só o primeiro retrato, de nós
E a saudade de ser o teu par

Toda a gente soube tão bem prever
Mas nem eu nem tu quisemos saber

Que, a valsa quando é triste é deixar
Ir até que chegue a hora de entrar

E eu, por mais que resistisse
Em cada não que disse, lá fui

Nessa valsa triste que dançamos
Sós, perante o baile inteiro a ver
Quero mais um dia dessa dança, amor
Que uma vida sem te conhecer

Balada do rei vadio

Leonel Neves / Luiz Goes
Repertório de Luís Goes


À noite sou um rei vadio
A lua até doira farrapos
E eu lavo os meus olhos no rio
Mas doí-me a lembrança dos sapos

Os sapos não babam estrelas
Mas sujam, às vezes o homem
Se tocam as coisas mais belas
Que a fome e o frio não comem

À noite a cidade é o mundo
O rio prateia-lhe os trapos
Eu passo e sou rei vagabundo
Mas doí-me a lembrança dos sapos

Os sapos não babam gaivotas
Mas sujam-me a mim, afinal
Gaivota sou eu, de asas rotas
Que o dia amanhã há-de ser igual

Verão, Alentejo e os homens

Tradicional
Repertório de António Zambujo


Meu Alentejo
Enquanto isto se processa
O sol ferindo sem pressa
Queima mais a tez bronzeada
O suor rasga a camisa
Homem queimado mais fica
E a vida é feita de brasa


No Verão
A brasa dourada e celeste
Esvaindo o sol agreste
Dourando mais as espigas
Ceifeiros, corpos curvados
Ceifando e atando em molhos
A benção loira da vida

O calor caustica os corpos
Os ceifeiros vão ceifando
Sem parar o seu labor
O seu cantar é dolente
É certo que é boa gente
Tem verdade e tem mais cor

Património de humanidade

Leonel Moura / Pedro Rodrigues
Repertório de Pedro Rodrigues


O fado filho do povo
Percorreu um mundo novo
E sempre foi maltratado
E até andou pelas hortas
Cantado fora de portas
Por fadistas do passado

Amigo da vida boa
Nos bairros desta Lisboa
Ninguém sabe onde nasceu
Era pobre passou fome
Deu à cidade seu nome
Foi um vadio e plebeu

Foi cavaleiro e campino
Marcado pelo destino
Cresceu saiu da cidade
No seu viver vagabundo
Foi coroado pelo mundo
Património da humanidade

P'la sina da sua grei
Não é cumpridor da lei
E por nobres foi cantado
Mas se dizem que ele triste
O fado a tudo resiste
Por isso se chama fado

O primado das palavras

Letra de Joaquim Pessoa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível


Amor, não sei de coisa mais violenta
Que ficar de noite à tua espera
É triste como uma manhã cinzenta
Destruindo o coração da Primavera

E aqui como um pássaro deitado
Julgando ouvir na chuva a tua voz
A madrugada deita-se a meu lado
Fingindo que na terra estamos nós

Mas eu sinto chegar esta amargura
Que vem fechar-me os olhos e depois
Já nem sei se é um sono ou se é loucura
No quarto onde estou só, ficamos dois

E nada mais me importa, já não espero
Aquela que enche a noite de alegria
Então para dizer quanto te quero
Eu faço amor contigo até ser dia

Não digam mal do fado

Jorge Rosa / Acácio Gomes
Repertório de Fernando Manuel


Muita gente diz p’raí e afirma mesmo
Que o fado foi do passado
Mas quem fala assim já vi que fala a esmo
E nada entende de fado

Falam de cor por falar e não duvido
Que quem fala, fala à toa
Fala no ar e de ouvido
Porque o fado ’inda é sentido
P’los fadistas de Lisboa

Mas quem quiser
Saber se o fado ’inda existe
Se resiste ou não resiste
À má língua que o perdeu
Que venham ver
Esse que dizem de outrora
Como é o mesmo ’inda agora
Nesta voz que Deus me deu


Sou fadista porque o sou, não compreendo
Quem diz que o fado que é
Uma canção que passou e não entendo
Essa gente de má fé

Dizem mal dele, deixá-lo, porque eu
Desdigo quem diga mal
Difamá-lo brada ao céu
Porque o fado não morreu
E nem more em Portugal

Dois irmãos

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravida
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Conheci dois irmãos que, em pequeninos
Nunca um com o outro se zangou
Cresceram e seguiram os destinos
Que a sorte caprichosa lhes traçou

Um deles estudou, fez-se engenheiro
Com nome conhecido em toda a parte
O outro não passou de serralheiro
Trabalhando com amor na sua arte

Embora com diferente posição
Ao engenheiro isso pouco importa
Tratava lealmente com o irmão
Não desprezando bater à sua porta

Porém alguns colegas com riqueza
Dizem ao engenheiro, em desagrado:
Andares com esse operário é uma baixeza
E até poderás ser prejudicado

Responde o engenheiro, em voz sentida
A quem lhe censurou tal união
Ele é um homem que luta pela vida
E, acima de tudo, é meu irmão

E às vezes dou por mim

André Henriques / Filho da mãe (Rui de Carvalho)
Repertório de Cristina Branco


Espero-te como quem espera o futuro
Sem ciência, só por adivinhação
Não sei se és tu quem procuro
Mas é tarde p’ra tudo
Tarda-me o coração

Tenho-te nesta ideia que fiz de dois
Um qualquer a mim já não me dobra
E entre um sim e um pois
Tu não matas nem móis
E o meu corpo já sobra

E às vezes dou por mim
Quando ninguém está a ver
Será que é por tanto querer
Que ninguém me quer
Sózinha na moldura
Na casa dos meus pais
Dizem que estou madura
E eu não quero esperar mais


Deixa que esta noite nos leve
Ai de mim, se não for agora
Que a razão só me pede
Que mate esta sede
E encerre a demora

Não sou eu, é o tempo que atraso
Que me arrasta aos tombos pelo chão
Eu só quero inquilino
Que pague no prazo
Esta solidão

E às vezes dou por mim
A queimar as janelas
Se ninguém me quer assim
Amo os maridos delas
Que me acusem de pecados
Que me chamem nomes feios
De solteiros encalhados
Tenho eu os bolsos cheios

E às vezes dou por mim

Canção de embalar o amor

Tiago Salazari / Vitorino
Repertório de Carlos Leitão


Vem ver onde nasce o deserto
Vem ver onde é a foz do luar
Dunas e estrelas são o tecto
Anjos cintilam no seu lugar

Vem ver onde fica o oceano
Vem ver o canto do nosso mar
Onde és um amor sem engano
És minha canção de embalar

Porque antes de ti nada era
Porque depois de ti tudo foi
Porque a vida é valsa cantada
Porque o amor é o tempo dos dois;
Porque a vida é valsa cantada
Porque o amor é o tempo dos dois

Rimas ao acaso

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Estas rimas ao acaso
Às vezes até dão azo
A falar com nostalgia
Da nossa paixão falhada
Fingindo que foi criada
Só na minha fantasia

Estas rimas que procuro
Para lá do vão escuro
Da minha pobre memória
Lá vão a fingir de fado
A contar de lado em lado
O final da nossa história

Estas rimas sem sentido
Que forjei desiludido
E das quais ninguém faz caso
São pedradas que eu atiro
São lanças onde me firo
Estas rimas ao acaso

A vida é só um fado

Valter Hugo Mãe / Acácio Gomes *fado acácio*
Repertório de Eliana Castro


Um amor de ilusão
Deixou-me em pleno inverno
Minha voz assim tremida
Neste canto vos trago
Se o inferno é a vida
A vida é só um fado

Escutem pois meu coração
E este vazio no peito
P’ra que vos não aconteça
Um amor assim desfeito
Por muito que nos entristeça
Tudo na vida é passado

Neste canto vos trago
Se o inferno é a vida
A vida é só um fado
Sem nunca ter errado
Sei que o inferno é a vida
Mas a vida é só um fado

Dança Lisboa

Letra e música de Mário Moniz Pereira
Repertório de António Pinto Basto

Os rapazes elegantes
Com jaquetas amarelas
Vestidas, de cores berrantes
As raparigas vão belas

Rapazes vão prá direita
As moças pró outro lado
A roda fica bem feita
Vão sair de braço dado

Lisboa dança na avenida
Com as marchas populares
Lisboa dança cheia de vida
A mostrar os seus cantares
Há emoção e confusão
Vai na rua um pandemónio
Há namorados já abraçados
Está contente o Santo António


Os namorados esperam
Que a alcachofra vá florir
Tanto esperam, desesperam
Que não pensam em dormir

À noite tudo se anima
Foguetes estalam no ar
Mesmo o Marquês lá em cima
Parece estar a gostar

Quadras

De Jorge Rosa
Desconheço se algumas destas quadras foram gravadas.
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Se alguém pudesse juntar
Pelo céu, estrelas aos molhos
Não arranjava brilhar
Que ofuscasse o dos teus olhos

P’ra jogares com o coração
Tens fortuna e tens beleza
Com esses trunfos na mão
Ganhas com toda a certeza

Com o Ás de Copas, cuidado
Se o jogares, toma atenção
Dá sempre mau resultado
Pôr em jogo um coração

Por causa duns negros olhos
Por causa dum negro olhar
Andam meus dias mais negros
Que uma noite sem luar

Gosto da noite sem lua
Gosto da noite sem nada
Triste, negra, fria e nua
Como a minh’alma penada

Nunca entendi na verdade
O que vale essa afeição
Não sei se amor, se amizade
Piedade ou gratidão

Repara, não há diferença
No peso do nosso amar
Pesa-te tanto a indiferença
Como pesa o meu gostar

Quis mandar-te novidades
Escrever-te notícias minhas
Mas na carta, só saudades
Encheram todas as linhas

Estrelas de longe, luzentes
Se ao meu bem o pranto ouvistes
Secai os seus olhos tristes
Que eu não sei fazer contentes

Se a tristeza que há no mundo
Se juntasse, com certeza
Não era maior tristeza
Que a do meu penar profundo

Pois a dor em que me afundo
Na saudade foi acesa
Que não há, tenho a certeza!
Remédio p’ra mal tão fundo

Santo António de Lisboa
Dá despacho ao meu pedido
E arranja-me uma pessoa
A quem eu chame marido

Santo António e São João
Mais São Pedro, quem diria
Os três de arquinho e balão
Transformam a noite em dia

Mês de Junho é mês de festa
Que em Lisboa não tem par
Não há festa como esta
P’ra Santo António louvar

Meu Santo, Santo Antoninho
Dá-me um milagre, por esmola
Faz com que cheguem cedinho
As férias grandes da escola

A origem

Tiago Correia / José Mário Branco *fado penélope*
Repertório de Tiago Correia


A história que vos conto aconteceu
No tempo em que o amor nos fala ausente
Diante do meu povo em mim nasceu
A vida que eu sentia em mim presente

Entrou, assim ficou, não maís saiu
Chorou, riu e rezou com a verdade
Segredou-me nessa noite e me pediu
Que andasse sempre ao lado da saudade

Estranhei o seu pedido e perguntei
Porquê escolher-me a mim se era menino
E foi na minha voz que decifrei
Que estava assim marcado o meu destino

Caminho nessa estrada sem ter fim
Andando c’oa verdade lado a lado
Transporto o tempo a vida que há em mim
Na história do meu povo, no meu fado

Amor de infância

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Valentim Matias


Ainda era miúdo
E se brincava a seu lado
Já dava ares de graúdo
De graúdo apaixonado;
Ela p’ra ele era tudo
Ele era o seu namorado

É ilusão, todos diziam
Sempre que os viam
De mão na mão
Era paixão, o que ele sentia
E lhe dizia, o coração
Já no liceu, o amor cresceu
E os seus desejos eram iguais
Trocavam beijos e algo mais
E muito mais


Hoje casados, felizes
Ainda de mão na mão
Rodeados de petizes
Fruto da sua união;
Criaram novas raízes
Que alimentam, sua paixão

Foi graças a Deus

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Deus pôs com graça divina
Nesta voz tons magoados
E eu canto d’ olhos cerrados
Como quem preces entoa
E vou cumprindo esta sina
De cantar e ser fadista
Naquele estilo fatalista
Que há no fado de Lisboa

O fado prendeu-se a mim
Como se fosse uma amarra
E ao ouvir uma guitarra
Cerro meus olhos e canto
Entrego-me toda assim
De coração feito voz
E se o fado fala em nós
Enche meus olhos de pranto

Ninguém se pode alhear
Daquilo que Deus destina
E o que se traz de menina
Rege a nossa vida inteira
Eu nasci para cantar
E trouxe o fado comigo
Mesmo que cumpra um castigo
Eu canto à minha maneira

Abril

Manuel Alegre / Alain Oulman
Repertório de Amália


Habito o sol dentro de ti
Descubro a terra, aprendo o mar
Por tuas mãos, naus antigas, chego ao longe
Que era sempre tão longe, aqui tão perto

Tu és meu vinho, tu és meu pão
Guitarra e fruto, meu navio
Este navio onde embarquei
Para encontrar, dentro de ti
O país de Abril

E eu procurava-te nas pontes da tristeza
Cantava, adivinhando-te cantava
Quando o País de Abril se vestia de ti
E eu perguntava quem eras

Meu amor, por ti cantei
E tu me deste um chão tão puro
Algarves de ternura
Por ti cantei à beira-povo, à beira-terra
E achei achando-te o País de Abril

O meu fado é outro fado

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


O meu fado é outro fado
Decidi-me a pôr de lado
A aventura de te amar
Talvez haja mais tortura;
Mais mágoa, mais desventura
Mas há outro procurar

O meu fado é noutro estilo
Desisti de tudo aquilo
Que julgava conseguido
Mais dorido, mais plangente;
Mais cansado, mais doente
Mais doido, mas mais vivido

O meu fado é outro fado
Mais sozinho, mais chorado
Mais sem nada, mais sofrido
Mas diferente do castigo;
De andar a sofrer contigo
Um erro não cometido

O meu fado, este d’agora
Feito raiva que devora
O que julguei conquistado
Foi moldado em desamor;
Não tem gosto, nem sabor
Mas p’ra mim é outro fado

Caír da tarde

José Luís Gordo / Paulo de Carvalho
Repertório de Alexandra


Acenaste-me um adeus
E vi teus dedos no céu
Como aves de ansiedade
Levei teus olhos comigo;
Deixei meus olhos contigo
P’ra não sentirmos saudade

E foi no cair da tarde
Quando o sol no céu não arde
E a lua já nos namora
Veio a noite de mansinho;
E tu lá foste sozinho
Ao regresso que demora

Fiquei sozinha à janela
A olhar aquela estrela
Que me fez de companhia
A saudade foi punhal
Que se cravou devagar
E teima em matar o dia

Jardim dos meus afetos

Leonel Moura / Carlos da Maia
Repertório de Leonel Moura

Nasceram no meu jardim
De uma beleza sem fim
Três cravos e duas rosas
Tão belos e tão formosas
Meus netinhos meus amores

Suas maldades adoro
Se choram eu também choro
É grande a minha afeição
Os seus beijos de ternura
Enchem até à loucura
O meu pobre coração

São tão grandes os afetos
Que dedico aos meus netos
Neste mundo que Deus fez
E digo de viva voz
É tão bom sermos avós
Ou meninos outra vez

Que bom é vê-los crescer
Neste meu entardecer
E sentir os seus carinhos
São lindos botões em flor
E frutos do meu amor
Meus adorados netinhos

A sorte do cavaleiro

Maria Manuel Cid / Georgino de Sousa
Repertório de António de Noronha


Toureiro que entras na arena
Tua figura serena
Vai ao encontro da morte
O teu coração padece
Rezando a Deus uma prece
Que dê sorte à tua sorte

E dessa prece sentida
Vai depender tua vida
Da divina proteção
Enquanto dura a faena
A praça fica pequena
E grande o teu coração

Toureiro, quanta virtude
Há nessa calma que ilude
A nobreza do teu porte
Em cada ferro dos teus
Pedes baixinho a Deus
Que dê sorte à tua sorte

E quando a sorte não falha
Quando a alegria se espalha
É já longa a tua prece
Por ter poupado a vida
Ao terminar a corrida
Rezando a Deus, agradece

Faz do passado presente

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


De cada vez que o passado
Ao pensamento me vem
Vejo-te sempre a meu lado
Sempre tu e mais ninguém

Sinto o calor dos teus braços
A carícia dos teus beijos
O fulgor dos teus abraços
O anseio dos teus desejos

O vigor da tua imagem
Na minha mente perdura
Passam sombras em romagem
Todas co’a tua figura

Por mais que tente não posso
Tirar-te do meu passado
Um passado que foi nosso
E que puseste de lado

Por favor dá aos teus passos
O rumo de antigamente
Volta amor, volta aos meus braços
Faz do passado, presente

Bom dia, bom dia

Rogério Bracinha / Ferrer Trindade
Repertório de Fernanda Batista


Nasce o sol em cada dia
Numa alegria que é sempre nova
Sobe no céu a alvorada
E a passarada solta uma trova

Passa o rico igual ao pobre
Pois somos povo do mesmo manto
Foi o sol quem fez a vida
Mais a cor garrida
O seu maior encanto

Surge o sol numa alegria
Dizendo p’rá gente: bom dia, bom dia
Logo o passarinho pia
Alegre e contente: bom dia, bom dia;
Toda a rua é uma orgia
De luz que anuncia ser dia de festa
Que o sol se conserve com luz como esta
É bem certo ser milagre


Torna verdes as campinas
Lindas meninas, noivas do Tejo
Põe nas faces das moçoilas
Belas papoilas, cor de desejo

Enche as praias com crianças
Risos e esperanças, traz mocidade
Mais para a tarde é sol-poente
Logo toda a gente pensa na saudade

O meu sonho de criança

Letra de João Ferreira Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Ouvi meus pais em criança
Nas canções do meu encanto
Nesta mais querida lembrança
A razão deste meu canto

No norte de Portugal
Eu nasci e fui criado
Ouvi fado e por tal
Trago o destino marcado

Canto o fado que mais sinto
A verdade que vos dou
Por ser fadista não minto
A cantar sei quem eu sou

Ser fadista foi p’ra mim
Ter asas para voar
De sonhos ter um jardim
Dia a dia a despertar

Brincadeira

Inês de Vasconcellos / Fernando Pinto do Amaral / Ricardo Cruz
Repertório de Inês de Vasconcellos

Brinca comigo à procura
De uma estrela noutro céu
Brinca e lava a noite escura
Com os sonhos que Deus te deu

Começa devagarinho
Por favor, não tenhas medo
Que o meu coração fez ninho
Dentro do teu em segredo

Acorda os anjos que dormem
Com a luz do teu sorriso
Faz com que não se conformem
E saiam do paraíso

Deixa-os entrar de repente
No teu quarto, a esta hora
Em que a verdade mais quente
É o sono que te devora

Brinca comigo às escuras
Ensina-me o que não sei
Onde estás? Porque procuras
O coração que te dei?

Afã de Lisboa

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Valentim Matias


Se queres sentir o afã de Lisboa
Levanta bem cedinho e vem comigo
Mas não vagueies por aí à toa
Vem até aos lugares que te digo

Verás gente a correr, sair dum cacilheiro
E cada um quer ser primeiro
Vai ao Cais do Sodré, ao Rossio também
Calçada de carriche e Sacavém;
Passa em Santa Apolónia, espreita marginal
E até na ponte o apego é sempre igual


À tarde vem de novo a confusão
É o regresso a casa à desfilada
E então há outros que entram em função
São os que vão fazer sua noitada

Começam p’la sardinha num bairro popular
Ou em qualquer tasquinha a petiscar
Depois vem o cinema, o teatro de revista
E há quem vá para as docas p’rá conquista;
Discotecas e bares, amor em qualquer lado
Mas a noitada no acaba sem ter fado

Fado de salto alto

Leonel Moura / Alfredo Duarte *fado cravo*
Repertório de Leonel Moura

Sonhei com a Mouraria
Aonde o fado vivia
Na rua do Capelão
Onde um fadista com garra
Cantava um fado à guitarra
P'ra manter a tradição

Depois fui pela Moirama
E às vielas de Alfama
Aos retiros do passado
Fui ouvir uma guitarra
E uma voz que desgarra
A nostalgia de um fado

Depois subi ao Castelo
Imponente e sempre belo
Essa figura que invejo
Vi o Cristo-Rei abraçar
Os barcos a navegar
E as gaivotas do Tejo

E para a noite acabar
E o sonho terminar
Fui saber da realeza
Fui parar ao Bairro Alto
Onde o fado de salto alto
Tem mais encanto e beleza

Meus olhos cheios de ti

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meus olhos cheios de ti
Que perdi quando te vi
Pois não vêem nada mais
Devem ser desconfiados
Pois por mal dos meus pecados
Só vão aonde tu vais

Tem cuidado meu amor
Não tentes seja o que for
Que nos possa separar
Recalca tais devaneios
Que os meus olhos de ti cheios
Nem por mim podem chorar

Meus olhos cheios de ti
A quem nunca conheci
Outra razão de viver
Até mesmo no altar
Quando por nós vou rezar
Nunca deixam de te ver

Bergantim

Eduardo Olímpio / Paco Bandeira
Repertório de Maria Dilar


Fui à cidade p’ra ver o mar
Trago um recado p’ra lhe contar
Que a minha terra é de gente boa
Sonha Lisboa
Chora Lisboa;
Que a minha terra é toda o mundo
Eu trago um rumo alto e profundo

Ai Lisboa, Lisboa, Lisboa
Voa gaivota, gaivota voa
Ai Lisboa, Lisboa, Lisboa
Mulher na proa, numa canoa


Nasci dum povo de trovadores
Canto cidades, encanto amores
Desci o Tejo e não sabia
Que no teu leito me descobria;
Desci o Tejo num bergantim
Lancei as redes que havia em mim

A tua história, quem me contou
Disse que Ulisses aqui chegou
Aqui chegaram as caravelas
Quem vinha nelas? 
Quem vinha nelas?
Daqui partiram as caravelas
Que é feito delas? 
Que é feito delas?

Tive saudades tuas

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Eu tive saudades tuas
Tive saudades sem fim
E fui chamar pelas ruas
A ver se tu continuas
A ter saudades de mim

Eu tive saudades minhas
Quando a teu lado morei
Falei às tuas vizinhas
Revi as coisas que tinhas
Mas contigo não falei

Quando olho o teu retrato
E não oiço a tua voz
Fico farto do meu quarto
E não sei como não parto
P’ró quarto que era de nós

Se queres voltar ao passado
Vê se deixas os porquês
Vê se voltas ao meu lado
Vê se voltas ao meu fado
Vê se voltas duma vez

Balelas

Cuca, Pedro Silva Martins / Pedro Silva Martins
Repertório de Cuca Roseta


Ando feita ao bife com este xerife
Armado em patife com seu ar naïf
Conversa para cá e conversa para lá
Vai passando graxa, conversa de chacha

Agora é que são
É que vão ser elas
Balelas, balelas, balelas
Balelas, balelas, balelas


Ora vira o disco ora toca o mesmo
Já não corro risco, já não corro a esmo
Já são muitos anos, virei muitos frangos
Chega-me a mostarda e não baixo a guarda

Tira o cavalinho da chuva e olha
Quem com fogo brinca um dia ‘inda se molha
Acabou-se a trela se queres ter abébia
Toma lá cautela junta água e bebe-a

Isto tudo são
Balelas, balelas, balelas
Isto tudo são
Balelas, balelas, balelas
Palavras em vão
Balelas, balelas, balelas
Mas comigo não

Hoje canto p’ra vocês

Leonel Moura / Pedro Rodrigues
Repertório de Leonel Moura


A gente do meu país 
Tem mais beleza e encanto
Gente de casta raiz
É o povo que assim diz
Desta terra que hoje canto;
Gente de casta raiz
A gente do meu país
Tem mais beleza e encanto

Esta terra portuguesa 
Onde o sol veio morar
É bela pois concerteza
Cheia de rara beleza 
De um jardim à beira-mar;
É bela pois com certeza
Esta terra portuguesa
Onde o sol veio morar

Há fado toiros e vinho 
Neste cantinho do céu
Tem paz amor e carinho
Tem um cheiro a rosmaninho
E a graça que Deus lhe deu;
Tem paz amor e carinho
Há fado toiros e vinho 
Neste cantinho do céu

E a luz do sol a brilhar 
No doirado do seu pão
E os rouxinóis a cantar
Em tudo fazem lembrar 
O cante do coração;
E os rouxinóis a cantar
E a luz do sol a brilhar 
No doirado do seu pão

Hoje canto p’ra vocês 
Este fado e sou feliz
Porque sou bom português
Tenho orgulho e altivez 
No fado do meu país;
Porque sou bom português
Hoje canto p’ra vocês 
O fado do me país

Balada de novembro

Tiago Correia / Florêncio de Carvalho
Repertório de Tiago Correia


Entre sombras fugidias vejo a lua
Minha amante de segredos nesta vida
É novembro, noite fria, nua a rua
Quando a folha do outono cai perdida

Há um esvoaçar de sonhos p’lo caminho
Ao ouvir em cada casa uma criança
Dando cor à madrugada, que, sozinho

Me desperta no olhar, a doce esperança
Navego pelas ruas da cidade
Na noite em que o silêncio me procura
E o fado tão vestido de saudade
Entrega-se em meus braços com loucura

E em cada pensamento, fantasia
E em cada rima escrita, ilusão
Em novembro, a própria dor é alegria
E a tristeza é mais feliz no coração

Não chores mais, cantador

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Não chores mais cantador
Adormece o teu tormento
Porque a morte dum amor
Não merece tal lamento

Vejo o teu vulto sozinho
A sombra vaga e sem cor
Ébrio, afogado em vinho
Não chores mais cantador

Não te mates de paixão
Só porque um amor morreu
Faz morrer no coração
Essa paixão que ele viveu

A um canto da taberna
Atascado em carrascão
À fosca luz da lanterna
Afogaste essa paixão

Faz sentir a voz bizarra
Que enrouqueceste na dor
Faz carpir essa guitarra
Não chores mais cantador

Bate a chuva na janela

Letra e música de Carlos Faria de Jesus
Repertório de Pedro Lisboa


Bate a chuva na janela
Nas grades da minha cela
Feitas de amor e saudade
Bate a chuva na vidraça
E a noite que não passa
Atiça a minha ansiedade

Bate em mim esta paixão
No silêncio da solidão
Bate a chuva na janela
E neste compasso triste
Meu coração não resiste
E bate louco por ela

Bate a chuva num lamento
Despertando sentimentos
Que eu quero tanto esquecer
Bate, bate, gota a gota
Numa toada tão louca
Não me deixa adormecer

O vento passa e sussurra
Que vá levar esta chuva
Vá cair onde ela mora
Que lhe bata na janela
E lhe diga que é por ela
Que o meu coração chora

Fadista antigo

Jorge Rosa / Jaime Santos
Repertório de Natércia Maria


Por acaso ouvi falar
Duma canção portuguesa
Toda feita de chorar
Toda feita de tristeza

Encontrei no meu caminho
Um cantador do passado
E pedi-lhe com carinho
Que me falasse do fado

Aconchegou junto ao peito, com jeito
A guitarra, docemente
E dedilhou guitarradas, baladas
Toadas de antigamente
Cantou-me lindas cantigas, antigas
Canções tristes do passado
Fez-me sentir a magia que havia
Na melodia do fado


Vi bailarem os seus dedos
P’la guitarra com ternura
Ouvi contar seus segredos
De amorosa desventura

Senti toda a nostalgia
Duma sentida saudade
E sentindo o que sentia
De cantar senti vontade

Aconcheguei junto ao peito, com jeito
A guitarra, docemente
E dedilhei guitarradas, baladas
Toadas de antigamente
Cantei também as cantigas, antigas
Dum cantador do passado
Fez-me sentir a magia que havia
E agora no coração, desde então
Trago a magia do fado

Lisboa é uma guitarra

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Lisboa
É uma guitarra feliz
Que no seu trinado diz
Coisas da sua alegria
Lisboa
É uma guitarra que embala
Nas suas cordas a fala
Que aprendeu na Mouraria

Lisboa
É uma guitarra que sonha
Mas sua vida risonha
Quanta vez não é verdade
Lisboa
Também sofre, também chora
Quando o amor se demora
É guitarra de saudade

Quando acontece

Rogério Ferreira / Frederico de Brito *fado dos sonhos*
Repertório de Eliana Castro


Estou sempre a ver a maneira
De chegar à tua beira
Ai de mim se não consigo
Desde que te conheci
Fiquei carente de ti
Só sonho sonhar contigo

Quando o amor acontece
A nossa alma estremece
E há perfumes no ar
De nada temos receio
0 nosso rio vai cheio
Que importa se transbordar

Nos abraços somos laços
Danças, desenhos e traços
Somos um só, Santo Deus
Todos os beijos são poucos
Todos são doces e loucos
Desde que sejam os teus

Morrer de saudades

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quando partires voltarei
A cantar o nosso fado
Longe de ti ficarei
No nosso mundo encantado

Viverá no nosso fado
As horas que nos uniram
Caminhos que, lado a lado
Os nossos passos seguiram

Lado a lado, longe e triste
Sempre comigo vivi
E o amor que em nós existe
Podes crer, bem o mereci

E sinto tantas saudades
Das saudades que vou ter
Que quero ter mais saudades
P’ra de saudades morrer

A verdade dos sonhos

Leonel Moura / Carlos da Maia
Repertório de Leonel Moura


Os sonhos que nós sonhamos
E depois quando acordamos
Voltamos à realidade
Às vezes nos nossos sonhos
Vivem-se mundos risonhos
Coisas que não são verdade

Nesta vida de quimeras
Não sei quantas Primaveras
Nascem no peito da gente
Os desejos e paixões
Tristezas, desilusões
Tudo se vai de repente

Verdadeiros ou ditosos
Risonhos ou mentirosos
Sonham-se da mesma maneira
Se os sonhos são ilusões
As suas recordações
Perduram pela vida inteira

Nesta vida de encantar
Os sonhos fazem lembrar
Tudo o que se vive em vão
A gente vive a sonhar
Que um dia pode alcançar
Os sonhos do coração