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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os criadores dos temas aqui apresentados.
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Tenho vindo a publicar letras (de autores que já partiram) sem indicação de intérpretes ou compositores na esperança de obter informações detalhadas sobre os temas.
<> 7.800 LETRAS <> 4.025.000 VISITAS <> 31 DE JULHO DE 2025
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A luz do teu sorriso

Letra e música de José Gonçalez
Repertório de José Gonçalez com José Cid


Quando eu voltar p'ra trás, quero sentir
Que sempre fui capaz de permitir
Que aqueles que de mim quiseram bem
Tiveram o melhor que pude dar;
Sabendo eu que recebi também
O melhor que tinham p'ra me dar


Os anos passam sem pedir nada a ninguém
E quando passam, nem perguntam se estás bem
E quando tentas perceber o que passou
É quando inventas a saudade que chegou

E depois lembras aqueles que chegaram
E também lembras aqueles que partiram
E se uma lágrima salgar esse teu riso
É essa lágrima a luz do teu sorriso

Se o teu cabelo te mostrar que já não és
Esse garoto que já teve o mundo aos pés
Solta o novelo, deixa o fio desenrolar
Um pano roto mostra que se soube usar

Lembra a criança dos teus dias felizes
Tens a herança nas tuas cicatrizes
Não te demores nas lembranças de algum mal
Guarda as melhores para o teu encore final

Fado alegre do Alentejo

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Um olhar breve sobre os campos
Que terra é esta que se avizinha?
Promessa-flor à beira-estrada
Caricia suave de ligeira brisa

0 escuro fresco dos sobreiros
Tanto doirado a pintar o chão
Castelo e vila, castro e aldeia
No horizonte cabe todo o céu

E andar pelas searas
Sob a luz do pôr-do-sol
Risos brancos como as casas
Risos que sabem a sal;
Azul-céu, azul na onda
Azul-noite como breu
Um sentir calmo e profundo
Alentejo que é tão meu


Um beijo doce à tardinha
Tão bom o encontro
Depois dum adeus
Amar de novo amor antigo
Sentir ainda tudo, tudo, tudo, por fazer

Vem vida nova aos meus olhos
Se toco a terra co’a minha mão
Ó meu amor, meu Alentejo
Lava a tristeza do meu coração

Por muito que me revolte

Mário Rainho / José Joaquim Cavalheiro Jnr *fado menor do porto
Repertório de Soraia Cardoso
*P'ra onde quer que me volte*
Título deste tema na gravação de António Zambujo 
na música do Fado Vianinha

Por muito que me revolte
Seres somente uma miragem
P'ra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem

Imagem que me enlouquece
Como um louco no deserto
Que do nada me aparece
E tão distante é tão perto

Vejo-te envolto em poeira
Ou transparente cristal
E a loucura é mais inteira
0 sonho quase real

Por muito que me revolte
Seres somente uma miragem
P'ra onde quer que me volte
Vejo sempre a tua imagem

Quase fado

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Um dia quis cantar o fado
Que ao peito apetecia
Mas logo o senhor do lado
Me disse que eu não podia

Olhando-o bem de frente
Perguntei admirada
Terei garganta diferente
Doutra garganta afinada?

Disse ele então que o fado é destino
É dor com hora marcada
Disse ele que o fado é destino
É dor com hora marcada;
E disse ainda que só é fadista
Quem traz a dor escriturada

Fiquei triste nesse dia
Fui p’ra casa meditar
Tinha na alma a tristeza
Daquela que faz chorar

Enquanto nisto penava
Quase sem eu reparar
Abro a boca solto a voz
Lá vem o fado a saltar

Alentejo, um ar de festa

Letra e música de José Gonçalez
Repertório do autor com Vitorino


Trago aqui
Amarrada na garganta
A saudade que desponta
Dessa lonjura de ti
Este meu canto
Que me deixa a alma nua
Tem a dor que se insinua
Por viver longe de ti

Meu Alentejo
Quanta mágoa é desejo
P'ra deixar em cada beijo
Quando a voz se faz cantiga
E a primavera
Vai deixando sempre à espera
A papoila da quimera
Na planície mais antiga

Sobre o teu campo
Andam centos de pardais
A naufragar nos trigais
A roubar os grãos de trigo
E em cada sombra
Mora sempre um ar de festa
Que me envolve em cada sesta
E me faz sonhar contigo

Meu Alentejo
Morro sempre no teu beijo
Quando este se faz desejo
Na saudade que me invade
E o horizonte
Que se esconde atrás do monte
Adormece em cada fonte
Ao cair de cada tarde

Talvez nem saibas
A tristeza que adivinhas
Sempre que as andorinhas
Se despedem do teu sol
E p’lo montado
Ficam marcas do seu pranto
Que se vestem como canto
No trinar dum rouxinol

Meu Alentejo
Vou deixar este meu beijo
Como marca de desejo
Dos meus olhos feitos d’água
Talvez um dia
Possa ainda a alegria
Ser maior que a nostalgia
P’ra afogar a minha mágoa

Cavalo Morzelo

Vasco Telles da Gama / Jorge Ganhão
Repertório de Eduardo Falcão


Eu tenho um lindo Morzelo
De negra cor é seu pelo
E é bonito a galopar
Garboso como um sultão
Tão veloz como um trovão
Parece saber dançar

Fui com ele certo dia
À famosa romaria
Da Senhora de Alcamé
E ali junto à ermida
Numa festa bem garrida
Fez a profissão de fé

Após ser abençoado
Galopou atrás do gado
Pela lezíria do Tejo
E durante aquele dia
Descobriu com alegria
Como é lindo O Ribatejo

Hoje se não corre lebres
Não toureia ou galga sebes
Até parece que chora
E é sempre com altivez
Que mostra ser português
Meu cavalo cor de amora

Ser tudo para ti

Letra e música de Tozé Brito
Repertório de Sara Paixão


Nunca pensei chegar
Tão tarde à tua vida
Sempre te procurei
Sempre andei perdida

Mas tinha por destino
0 meu lugar aqui
Ser tudo para ti
Ser tudo para ti

Agora que cheguei
Só quero estar contigo
Na festa de um abraço
Ser o teu abrigo

Esquecer malas, viagens
Pertencer aqui
Ser tudo para ti
Ser tudo para ti

Ser amor enquanto o amor durar
E mais que ser amor… saber amar
Ser sombra do teu corpo até ao fim
És tudo para mim

E agora que cheguei
Perder-me aqui
Ser tudo para ti
Ser tudo para ti

Prece poética

José Fernandes Castro / José António Sabrosa
Repertório de Luís Pinto


Cada vez faz mais sentido
Todo este tempo vivido
Dentro da alma do fado
Horas de amor intensivo
Mantendo vivo, bem vivo
Este sonho abençoado

Sonho que ao vir até mim
Me fez viver num jardim
De palavras com memória
Cada rima era uma flor
Cada poema, um amor
Cada fado, uma vitória

Com o passar da idade
Foi aumentando a saudade
Como a todos acontece
Com o tempo decorrido
Cada vez faz mais sentido
Cantar em forma de prece

Fado do calha bem

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Calha bem
Vim aqui p’ra te dizer
Que eu sem ti não sei viver
Neste caminho apertado
Calha bem
Que o costume, afinal
É amar ao maquinal
Amar assim é pecado

Calha bem
Pensavas tu que sem mim
Viverias bem assim
Cada qual para seu lado
Calha bem
Entendeste a coisa e tal
Não vias bem afinal
Estavas algo perturbado

E agora sei
Que não vives tu sem mim
E se vives tu assim
Vivo eu mais descansada
Calha bem
Que o sentido desta vida
Tão incerta e indefinida
Acharemos lado a lado

Condenação

Maria do Rosário Pedreira / Franklin Godinho
Repertório de Soraia Cardoso


Tenho na vida um dilema
Um velho amor que é algema
Corda, corrente e prisão
E não querendo retomá-lo
Não sou capaz de calá-lo
Dentro do meu coração

Presa desse amor antigo
Eu tento, mas não consigo
Entregar-me a mais ninguém
Como se as minhas memórias
Matassem todas as histórias
Do futuro que aí vem

Sei que esse amor está esgotado
Que é tudo menos sensato
Ficar à sua mercê
Mas mesmo quando o desejo
Entristeço no seu beijo
E não entendo porquê

Quem me dera um grande amor
Que enfim, levasse a melhor
Sobre esta velha prisão
Ah, como é triste esta sina
Duma paixão que termina
Mas impede outra paixão

Fadinho do trânsito

Manuel Paião / Eduardo Damas
Repertório de Hermínia


Comprei um carro fiquei tramada
Pois passo a vida a ser multada
Pró arrumar, ando e desando
Só há lugar, ai de contrabando

Temos buracos nas avenidas
Mas as paragens estão proibidas
Amigos meus isto está mau
Só temos multas a dar com pau

Só há apitos a cada momento
E não há parques de estacionamento
Há grandes bichas e o sinaleiro
Apita, apita, o dia inteiro
Todos se esforçam por ir na frente
E às vezes chamam nomes à gente
Mas se ao meu lado eles se demoram
Eu cá respondo, eles até coram


TEXTO FALADO
Já pensaram que o dinheiro que a gente gasta em gasolina 
à procura de lugar pró carro dava para construir os parques
de estacionamento subterrâneos e ainda sobrava alguma 
prá inauguração com umas pinguinhas?

Não há cá túneis como na estranja
Andamos todos nervos em franja
Ninguém mais pára nesta cidade
Do tempo antigo temos saudade

Mas hoje temos tanta demora
Que era melhor o carro do Chora
Ai como eu sofro co’a baralhada
Comprei um carro e estou tramada

TEXTO FALADO
Por este andar, daqui a dois anos, se a gente quiser ir jantar 
ao Quebra-Bilhas temos de largar da Mouraria antes do almoço 
para chegarmos ao Campo Grande à hora do jantar

Requiem pelo rei

Vasco Telles da Gama / Júlio Proença *fado puxavante*
Repertório de Eduardo Falcão


O rei morreu, viva o rei
Noutro tempo se diria
Eu hoje nada direi
Porque é noite neste dia

O rei que hoje morreu
Na terra nunca reinou
Reinará, talvez, no céu
Aonde Deus o chamou

Junto a Cristal, por sinal
Será feliz certamente
Enquanto o seu Portugal
Agoniza lentamente

Mas embora agonizando
Quando o príncipe expirou
Ouviu a pátria chorando
Pelo rei que não reinou

Não sinto hoje alegria
Nem jamais perdoarei
Não se dizer neste dia
Que o rei morreu, viva o rei

Destino meu

José Fernandes Castro / Júlio Proença *fado laiva*
Repertório de Rogério Lourenço


Tantos caminhos
Tanta estrada percorrida
Tantos espinhos
Que dão vida à própria vida
Tanta loucura
Em nome do mesmo amor
Jura por jura
Sonho por sonho maior

Destino meu
Guiado por mão perfeita
Com a saudade à espreita
Nessa esquina que dobrei
Destino meu
Que mesmo de rumo incerto
Faz o longe ser mais perto
Faz o amor ser mais lei


Pé ante pé
Passo de passo marcado
Meu fado é
Retrato do meu passado
Assim lá vou
Cumprindo na perfeição
Esta paixão
Que a vida me destinou

Ventania

Francisco Guimarães / José Fontes Rocha
Repertório de Soraia Cardoso

0 vento tem duas penas
Com elas voo sem lei
E vão voando, serenas
Onde me levam não sei

E voa a todo o momento
0 vento, se o não parar
Mas fui de pedra e o vento
0 vento não quis voar

Tornei-me folha ao relento
Que cai mais leve no chão
Vou na cadeira do vento
E agora sou de algodão

E se eu voar, mas perdida
Perdida de quem eu sou
Abro os meus braços, rendida
0 vento sopra e eu vou

Bom dia

João Fezas Vital / Jorge Ganhão
Repertório de Eduardo Falcão


Olá minha mãe, bom dia
Olá Senhora Maria


Olá minha mãe, bom dia
Até parece alegria
A alegria de te ver;
E é mesmo verdade
É orgulho e é vaidade
De saber que és mulher

Olá minha mãe, bom dia
inventa esta noite o dia
Na alegria de viver;
E se puderes, minha mãe
Inventa por mim também
A vontade de nascer

Oh Pai Nosso, Nosso Pai
Seu e meu, de tanta gente
De quem ama não faz mal
Diga-lhe mãe, por favor;
Que a gente ainda é gente
E vive a fazer amor
Por amor a Portugal

Rua da canção

Francisco Guimarães / Angelo Freire
Repertório de Sara Paixão

0 relógio marcava meia-noite
Os olhos estavam fundos de cansaço
Os passos já sem força como o vento
E o tempo a contar o seu compasso

Is correios sem cartas para dar
Parados na paragem recolhida
A vida da cidade não cantava
Mas um som ressoava na avenida

E assim descubro agora que o que muda
Não são modas, as roupas, ou estações
As coisas que atravessam o meu peito
São coisas disfarçadas de canções


De repente a paisagem que era muda
Mudou como mudava o céu estrelado
Pessoas entoavam certas modas
Não sei bem se eram samba, se eram fado

Quando a rua me deu uma canção
O meu corpo acordou subitamente
A alegria invadiu o coração
Se oiço um fado, ou um samba, é indiferente

No espelho

Telmo Pires Francisco Viana *fado Vianinha*
Repertório de Telmo Pires


Vejo o homem no espelho
Acabei de reparar
Tem brancas e rugas na cara
O tempo vê o tempo passar

Passeia p'la sua cidade
Nos caminhos que inventou
Guarda os seus amores
Nos versos que cantou

Fala do seu desencanto
E canta p’ra não mais falar
Às vezes pensa que a alma
Merece melhor sitio p’ra morar

Se pudesse fugia
Corria p'ra qualquer lado
Mas prefere estar convosco
Juntar presente e passado

A minha alma está doente

Pedro Homem de Melo / Renato Varela *fado meia noite
Repertório de Teresa Tarouca
Poema ligeiramente adaptado

A minha alma está doente
Quiseram em vão curá-la
E quantos ingenuamente
Tentaram amortalhá-la

Fizeram cerco e no meio
De toda aquela muralha
Eu que sofria, cantava
Não me servira a mortalha

E à medida que o segredo
Vinha em meus lábios poisar-se
Embriagado, eu cantava
Não me servira o disfarce

Mas, por fim, vendo, talvez
Que nenhum remédio havia
Deram à minha surdez
O nome de poesia

Casa velhinha

Reinaldo Moreira da Costa / João David *fado rosa*
Repertório de Valdemar Vigário


Aquela casa velhinha
Onde meu avô nasceu
Foi do meu pai, hoje é minha
E depois dum filho meu


Foi meu berço de embalar
Apesar de pequenina
Hoje é o meu doce lar
Aquela casa velhinha

Tanta alegria e tristeza
Esse lar me concedeu
Pois foi com rara nobreza
Onde o meu avô nasceu

O tempo vai decorrendo
Nessa casa pobrezinha
As vidas vão-se perdendo
Foi do meu pai, hoje é minha

Mas nela sinto alegria
De todo o encanto seu
Será minha até um dia
E depois dum filho meu

Fado preto

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Preto, preto, preto, preto como a noite
Como o fim do mundo, preto sem igual
Preto sem tristeza, preto sem distância
Preto na certeza da preta esperança

Negro é fácil
É palavra de poeta
Negro é xaile da fadista
Quando canta

Mas preto, preto, preto é de verdade
Preto de criança, preto de saudade
Preto é que é da terra, preto é quem sabe
Preto, preto, preto de voz e vontade

Terra longe, mar salgado
Vida dura, condição
Busca a sorte na desgraça
Busca amor na solidão

Foi por ti que eu voltei

João Fezas Vital / Franklim Godinho
Repertório de Sara Paixão


Foi por ti que atravessei
Vinda de longe, de longe
Terras de sol e de vento
Foi por ti, mas já não sei
Se tu és ontem se és hoje
Ou apenas sofrimento

Fui ao mar, morri no mar
Levada pelo desejo
De te saber marinheiro
E viver no teu olhar
Fechado num longo beijo
0 que fosse derradeiro

Voltei louca de aventura
Na minha boca fechada
Os teus dedos foram frio
Foi por ti que eu voltei
Vinda de longe, do nada
P'ra sentir este vazio

Bate coração

Letra e música de José Gonçalez
Repertório do autor


Meu Deus, ao teu altar venho pedir
Um mundo mais feliz com mais amor
Meu Deus, quero motivos p’ra sorrir
Quero pintar a vida com mais cor

Meu Deus, quero sentir a tua luz
No sol que lá do alto nos aquece
Que seja a tua mão que me conduz
No meu caminho, na minha prece

Ai bate, bate coração
Bate a compasso
Que estou contente
Ai bate, bate coração
Marca o teu passo
Vamos em frente;
Ai ouve amigo o coração
Que o coração é quem nos diz
Que a vida pode ser uma canção
Uma canção e ser feliz


As rosas que encontrarmos no caminho
Não tenham mais os espinhos da tristeza
Meus Deus, que o teu amor de pão e vinho
Nos alimente a alma de beleza

Meu Deus, que saiba ter o meu irmão
Um grito de esperança e de bondade
Que possa cada um de mão na mão
Espalhar amor pela cidade

Estrelas sem fulgor

João Fezas Vital / José Lopes *fado Lopes*
Repertório de Sara Paixão


Foste à mesa onde eu estava
Com tanta, tanta gente
Pedir-me se eu te cantava
Os fados de antigamente

Levantei-me e fui cantar
Recordando o nosso amor
Falei de campos e de mar
E de estrelas sem fulgor

Recordei aquele dia
Que p’ra nos foi tão dif’rente
Perto do céu não havia
Nem resto de sol poente

Quando acabei de cantar
E cerraste os olhos teus
Também eu, por te olhar
A chorar fechei os meus

Fadinho simples

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Do pôr-do-sol nasce a lua
Da lua a madrugada
Do coração nasce a vida
Decidida e descuidada

Infatigável soldado
Sempre em busca da batalha
Bem te quero e mal me fazes
Não há súplica que me valha

Anda cá, onde vais
Tu vais ver ai, que cais
Coração, deixa ver
Quanto dar, que fazer
Anda cá, vem mostrar
Como é, como sabe bem amar


Basta de seguir teus ais
Cego músculo insensato
Não te quero ouvir mais
Com solidão te maltrato

Se ele se cala e eu morro
Perdida a meio da estrada
Sem um calorzinho ou consolo
Sem um coração somos nada

Caminho

Letra e música de José Gonçalez
Repertório de José Gonçalez com Gonçalo Salgueiro


Não chores se te entregam numa cruz
E cravam negras lanças no teu peito
Às vezes sobre as trevas faz-se luz
E surge outro caminho mais perfeito

Não digas a ninguém, que andas triste
Nem deixes que te vejam transparente
Há sempre urna andorinha que resiste
E nenhuma tempestade é permanente

Não deixes cair esses teus braços
No vertical alinhamento do desgosto
Põe outra vontade nos teus passos
E carrega de sorrisos o teu rosto

Não julgues ser maior que a tua fé
A tenebrosa visão da alegria
Se tiveres que morrer, morre de pé
Resistindo ais temporais de cada dia

Sem querer fugir de mim

Pedro Fernandes Martins / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Soraia Cardoso


Sou raiz que abraça a terra
Do chão que descalça, piso
Sou a paz dentro da guerra
Que me arranca um sorriso

Chama ardente que crepita
Na noite dos meus anseios
Estrada errante, infinita
Que percorro sem receios

Sou o rio que naufraga
No mar imenso da vida
E a vontade que se apaga
Por não ser compreendida

Vento em fúria que procura
Um lugar p’ra não soprar
Sou o corpo em que a ternura
Espera sempre repousar

Se temo ser como sou
Mas não sei, não ser assim
Sou o que o fado traçou
Sem querer fugir de mim

Fado tão bom

Marta Dias / António Chaínho
Repertório de Marta Dias


Vou estar contigo amanhã
Não sei ainda o que fazer
Quando chegares ao pé de mim
Não vou saber o que dizer

Se chegas perto desfaleço
Se vais p’ra longe desespero
Meu Deus, eu não me reconheço
Nem acredito que mereço
Tudo aquilo que mais quero

Um passo atrás e dois à frente
Tão bom
Quase verão e está mais quente
Ah tão bom
E o que eu quero é estar contigo
Um passo atrás e dois à frente
Está quase e não digo


Vou ver-te outra vez amanhã
E eu nem consigo acreditar
Tu mesmo aqui ao pé de mim
E eu tentando disfarçar

Chegaste perto e eu derreti
Foste p’ra longe e eu não consigo
Meu Deus, eu sei que prometi
Mas estar todo um dia sem ti
É tortura e mau castigo 

Sem medo

Maria do Rosário Pedreira / Carlos da Maia*fado perseguição*
Repertório de Soraia Cardoso


Se numa hora qualquer
Achares que não sou mulher
Para viver ao teu lado
Mais vale que o digas logo
Antes que eu acenda o fogo
Que tu queres ver apagado

Nenhum amor é eterno
E nem eu própria, governo
0 que por ti sinto agora
Só não quero que alimentes
Um amor que já não sentes
E depois te vás embora

Se numa hora como esta
Achares que se acaba a festa
Que eu faço da nossa vida
Não guardes disso segredo
Vais ver que não tenho medo
De enfrentar a despedida

Sobretudo não me mintas
Que eu detesto meias-tintas
Prefiro o luto à ilusão
Castigo é ter só metade
De quem não fala verdade
Nem sabe dizer que não

Praia da solidão

António Vasco Moraes / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de António Vasco Moraes

À deriva abandonada
Como gaivota perdida
É assim a minha amada
Tão longe da minha vida

Nem sequer sabe a razão
Porque voa rumo ao Sul
Deixou o meu coração
Buscando um céu mais azul

Longe foi, já se perdeu
Espera agora a sua sorte
Já não é azul o céu
Já não sabe onde é o Norte

Na praia d'onde partiu
Levantou-se um vendaval
Fica a sombra de um navio
Atracado ao areal

Nessa praia abandonada
Enterro o meu coração
Sou uma canoa quebrada
P'las ondas da solidão

Conversa de poetas

Francisco Guimarães / Filipe Pinto *fado vadio*
Repertório de José Geadas

Há poemas hoje em dia
Que não querem dizer nada
Não encaixam na harmonia
Fica a rima mal cantada

0 poeta do passado
Quer rimar com coração
Viva a forma aprisionado
Num só fado e à tradição

Mas há espaço p'ra tudo
Cada verso, é uma porta
Sem poetas era mudo
A palavra é o que importa

Q Ary cantando abril
A Sophia, a liberdade
Leio Adília em versos mil
Vejo em todos a verdade

E eu digo de memória
Sem julgar e admirado
Cada um na sua história
Deu a história ao nosso fado

Fado das cores

António Tinoco / José Campos e Sousa
Repertório de José Campos e Sousa


Naquelas ruas por onde
A cidade mais se esconde
Como que envolve os encantos
Dos dias de romaria
Das Senhoras da Agonia
Que secam os nossos prantos

E nas flores d'uma sacada
Na roupa branca lavada
É que a alma se nos prende
E num simples candeeiro
É a luz do mundo inteiro
Que em nossa alma se acende


Uma cidade sem tempo
Pintada como um lamento
Sobre o mar de uma janela
Desabrochou em amores
Ficou guardada nas cores
A cantar numa aguarela

Quadras soltas

Amália / Ricardo Borges Sousa *fado da Idanha*
Repertório de Soraia Cardoso


Joguei às cinco pedrinhas
Perdi todas as jogadas
Quando vi que tu não vinhas
Pedrinhas eram pedradas

Tenho um lindo namorado
Que me ama perdidamente
Tem um defeito, coitado
Ama assim a toda a gente

Quem o seu amor perdeu
E não queria ter perdido
Anda a chorar como eu
Que trago o meu no sentido

Papoila grito de cor
Tanto trigo te quer bem
Mais quero eu ao meu amor
Amor que amor não me tem

Saudades de Lisboa

António Vasco Moraes / Jaime Santos *fado salvaterra*
Repertório de António Vasco Moraes


Passa por mim a saudade
Mas não lhe dou confiança
Quero voltar à cidade
Que não me sai da lembrança

Cheira a castanhas e a mar
Cidade que ontem não vi
Já nem consigo lembrar
O lugar onde nasci

Tenho pressa de chegar
E poder ver teus encantos
Quero no Tejo afogar
As amarguras e os prantos

Lisboa, sete colinas
Mil cheiros, tantas idades
Já vejo tuas varinas
E continuo com saudades

Fado Chopin

Rodrigo Emílio / José Campos Sousa
Repertório de José Campos Sousa


Por não ter onde me acoite
Nem ninguém que olhe por mim
Vou andar de noite em noite
Até ao fim do meu fim

Toca baixinho, um noturno
Meu amor, um de Chopin
Enquanto durmo e não durmo
E a manhã não é de manhã


Quis a noite aliciar-me
Com dedos de sombra e luz
Tomei por sinal de alarme
O próprio sinal da cruz

Sempre que à noite te cruzes
Comigo, no patamar
Apaga todas as luzes
Expecto as do teu olhar

Não pode ser senão teu
O perfil mais que perfeito
Que esta noite se acendeu
No peitoril do meu peito

Dona de mim

Tiago Torres da Silva / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Soraia Cardoso


Tenho um olhar indeciso
Vivo sempre entre um sorriso
E uma lágrima triste
Mesmo quando estou feliz
Sinto que está por um triz
A dor mais forte que existe

Sinto ser dona do mundo
Mas depois passa um segundo
E já nem de mim sou dona
Uma folha pelo ar
Que só anseia voar
Quando o vento a abandona

Rio por tudo e por nada
Mas tenho uma gargalhada
De quem chora quando ri
E nestas contradições
Vou tomando as decisões
De que já me arrependi

Berta Cardoso


Soneto de Armando Neves
Tributo

Há por acaso alguém que ainda não teve
O prazer de a ouvir, na lusa terra
Dolorosa cantar a "Cruz de Guerra"
Ou amorável, a Canção da Neve?

A sua linda voz não se descreve
Sua garganta é escrínio que a descerra
Sentimental aroma a que se aferra
Carinhosa expressão, dúlcida e leve

Por que não canta ainda a nossa Berta
Porque fugiu do êxito alcançado?
Volte ao seu posto a "sentinela alerta"

Torne a brilhar a estrela do passado;
Que a Berta seja, nesta hora incerta
A porta aberta para o céu do "Fado"

Rosa peixeira

Fernando Farinha / Alberto Correia
Repertório de Fernando Farinha


Lá vai a Rosa peixeira, p’rá Ribeira
De canastrinha à cabeça
Manhãzinha, e o bater da chinelinha
Diz que a Rosa vai com pressa

Leva a canastra vazia
Mas o peito a transbordar
De alegrias e desejos
Do seu amor encontrar
Que vem da faina do mar
Encher-lhe a cara de beijos

Rosinha, sempre airosa, sempre fresca
Sonhaste na tua lua de mel
Não viste que o amor é como a pesca
E foste nas redes do teu Manel


Já se vê o Atalaia, e junto à praia
A Rosinha entre os demais
Dá um grito p’ró Manel, que do barquito
Sorri por vê-la no cais

A Rosa sorri contente
E o Atalaia atracou
Carregado de sardinha
E o Manel sorri também
Porque a melhor que lá vem
Está guardada p’rá Rosinha

Abrir mão

José Fernandes Castro / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de Henrique Ramos (ao vivo)

Abro mão de quase tudo
Que por amor construí
Mas não abro mão de ti
Meu sonho secreto e mudo

Abro mão da luz da lua
Que tanto luar me deu
Fazendo com que o teu céu
Fosse o céu da minha rua

Abro mão da melodia
Com que vesti o meu canto
Abro mão até, do espanto
Com que leio poesia

A vida que não escolhi
Nada deu de mão beijada
E não abro mão de ti
Porque sem ti não sou nada

Mané Chiné

Popular / Arranjos de Jorge Costa Pinto
Repertório de Amália


Se os meus tristes ais voassem
Ó Mané Chiné
Daria mil por cada hora
Vá di banda, di banda, é que é
Vá di banda, ó Mané Chiné

Iriam bater no peito
Ó Mané Chiné
De quem me lembrou agora
Vá di banda, di banda, é que é
Vá di banda, ó Mané Chiné


Anda cá, meu preto, preto
Ó Mané Chiné
Meu queimadinho do sol
Vá di banda, di banda, é que é
Vá di banda, ó Mané Chiné

Quanto mais preto, mais firme
Ó Mané Chiné
Quanto mais firme, melhor
Vá di banda, di banda, é que é
Vá di banda, ó Mané Chiné

Cidade jovem

José Fernandes Castro / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Alfredo Almeida (ao vivo)


Enquanto eu envelheço na cidade
Onde nasci, cresci e me fiz homem
A cidade mantém a mesma idade
Parece até que as dores não a consomem

Cada vez mais esbelta, mais airosa
Mais senhora de si, mais companheira
Esta cidade-mulher, poema-prosa
Mantém a sua alma de tripeira

Enquanto eu envelheço lentamente
A cidade que eu amo é sempre nova
Cidade que será eternamente
O mote mais sublime duma trova

Trova que cantarei enquanto possa
Trova que quero ver engrandecida
Esta cidade é tão minha, quanto vossa
Esta cidade é sol dentro da vida

Malmequer desfolhado

António de Bragança / Francisco Viana
Repertório de Teresa Tarouca

Um malmequer desfolhei
Nunca tal tivesse feito
Não sabia o que já sei
Tinha-te ainda no peito


P’ra saber s’inda era meu
O homem que eu tanto amei
Com os olhas fitos no céu
Um malmequer desfolhei

E da flor fui arrancando
Esperanças que fora deito
E agora eu estou chorando
Nunca tal tivesse feito

Julgando ter-te na vida
E seres p’ra mim minha lei
Passava o tempo iludida
Não sabia o que já sei

Sonhava meu coração
E agora sonho desfeito
Vivendo da ilusão
Tinha-te ainda no peito

Espero a vida a cantar

*Espero a morte a cantar*
Francisco Pessoa / Joaquim Campos *fado amora*
Repertório de Teresa Tarouca


Nesse teu olhar magoado
Vejo a cor dos olhos meus
Tem a dor um tom pisado
Que é o tom dos olhos teus

Sofro a dor por te querer
Esquecendo que te perdi
Mas um dia quis te ver
E louca d’amor fugi

Nos meus olhos vive ainda
Saudades do olhar teu
No meu peito vive infinda
Essa dor que em ti viveu

Hoje canto de amargura
Já cansada de te amar
E vencida p’la tortura
Eu espero a morte a cantar

Pergunta

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Se não fazes fé em mim
Se te atormentam descrenças
Faz perguntas porque assim
Pode ser que te convenças

Pergunta ao meu pensamento
Se alguma vez te esqueci
Dirá que nem um momento
Deixei de pensar em ti

Pergunta aos meus olhos s’eles
Olharam p’ra mais alguém
Eu sei que a resposta deles
É com certeza: ninguém

Pergunta ao meu coração
Se pulsou com liberdade
Há-de responder que não
Pois só bateu de saudade

Só à minha voz não vale
Fazer perguntas, que eu sei
Que dirá sempre que fale
Gostei, gosto e gostarei

Tarde p’ra voltar

Ricardo Maria Louro / José António Sabrosa
Repertório de Mónica Jesus


Era tarde, eu não sabia
Se tornarias a chegar
Pois há muito que não via
O teu corpo a passar

Era tarde, eu já sentia
Que tudo iria terminar
De nós dois tudo perdia
Era tarde p’ra voltar

Era tarde p’ra falar
Minha voz, silêncio é pranto
Doravante p’ra te amar
Só nos versos que não canto

Só ficou a ilusão
Que foste um dia ao chegar
Deixa em paz meu coração
Porque é tarde p’ra voltar

E em cada madrugada
Já não dói o teu desdém
Se eu p'ra ti não fui nada
Tu p’ra mim não és ninguém

Lisboa e o fado

Mário Rainho / Fontes Rocha
Repertório de Tânia Oleiro


Dizem que Lisboa agora
Vive em estado de pecado
Pois a cidade namora
Com um velho chamado fado

Dou a quem fala um conselho
Deixem-na andar à toa
Com aquele a quem chamam velho
E é mais novo que Lisboa

Namorou sem leis
Esta Lisboa velhinha
Com Duques, Condes e Reis
Na muralha Fernandina;
Mas p’ró que lhe deu
Cair d'amores e agrado
Na cantiga dum plebeu
Um tipo chamado Fado


Idades, o amor não escolhe
É assim que diz o povo
Lisboa, os ombros, encolhe
Por ter um homem mais novo

E desde que o conheceu
Vai com ele p’ra todo lado
Foi amor que aconteceu
Entre Lisboa e o Fado

Canto p’ra não sofrer

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu amor tu não me digas
Que consegues decifrar
O reverso das cantigas
Que eu canto p’ra não chorar

Cada rima é um anseio
Cada verso uma agonia
Ó meu amor eu não creio
Que entendas tal poesia

Fecho os meus olhos e faço
Por ver um pouco de mim
Canto os meus fados e passo
A sofrer menos assim

Porta fechada

Letra e música de Amadeu Diniz da Fonseca
Repertório de Maria João Quadros


Quando uma porta se fecha
E deixa, sozinho
Um grande amor já vivido
Perdido, pelo caminho
Tudo ao redor desmorona
Tudo parece ruir
Quanta lágrima sentida
Acaba por cair

Ó meu amor
Nunca te esqueças de mim
O meu coração esmorece
Padece, longe de ti


Quando uma porta se fecha
E deixa um lamento
É tão grande o sofrimento
Que não cala a amargura
Mas se o tempo retoma
De novo, a hora perdida
Parece então que floresce
Amanhece de novo a vida

Noite sem fim

Jorge Rosa / Fontes Rocha *fado isabel*
Repertório de António Mourão

Eras minha e por seres minha
Quanto feliz era eu
Queria tudo e tudo tinha
O mundo inteiro era meu

Mas no dia em que mudaste
A minha vida mudou
O bem em mal transformaste
Agora já nada sou

Sou menos que grão de areia
Perdido num areal
Folha que o vento volteia
Em dia de vendaval

Eu sou a noite sem fim
Que não espera a madrugada
O que fizeste de mim
Que era tudo e não sou nada

Sou feliz

José Neto / Frederico de Brito *fado britinho*
Repertório de Maria Teresa de Noronha


Meu amor, olha pró mar
Para veres a cor dos olhos
Que ao nasceres, Deus te deu
Olha bem longe e verás
Como ao longe se confundem
As cores do mar e do céu

Ó meu pobre coração
Onde tudo é escuridão
Só tem brilho um olhar teu
Gostava de ser ceguinha
Guiada na vida minha
P’los olhos que Deus te deu

Fui numa prece ao Senhor
A minha vida depor
Aos pés da sagrada cruz
Dava a minha vida a Deus
Se me desses os olhos teus
Que à minha vida dão luz

Deus ouviu minha oração
Tão feita de devoção
Tão magoada e sentida
Deu-me a luz dos olhos teus
Sou feliz graças e Deus
Tenho luz na minha vida

Espero

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Espero horas, podes crer
Só para te ver passar
Só para poder cruzar
O meu olhar com o teu
A ventura de te ver
É já ventura bastante
Quer seja perto ou distante
Se te vejo, vejo o céu

Parece, quando tu passas
Que nasce o sol só p’ra mim
E à minha volta há um jardim
Em florida Primavera
E louvo a Deus e dou graças
P’lo momento de te ver
Que pronto me faz esquecer
As longas horas de espera

Não calculas o tormento
Com que a minha alma está
Naquele virá?, não virá?
Que antecede a tua vinda
Tenho a impressão que um momento
É quase uma eternidade
Que uma hora de ansiedade
É tormento que não finda

Armazéns do matrimónio

Linhares Barbosa / Fernando Freitas
Repertório de Quinita Gomes


Pedem-se amostras p’ra ver
Quando se compra um vestido
O mesmo devia ser
P’ra se arranjar um marido

Calculem que pesadelo
Entrarmos no armazém
Escolhermos o modelo
Do homem que nos convém

A empregada exibia
As últimas novidades
Depois a gente escolhia
Conforme as necessidades

Eram altos e pequenos
Gordos e magros aos molhos
Uns loiros outros morenos
Olhando e piscando os olhos

Nas grandes liquidações
Na abundância de sortido
Por dez ou quinze tostões
Tirava-se um bom marido

Comprar homens a retalho
Era um negócio dos raros
Mas eles dão tal trabalho
Que até de graça são caros

Dona do fado

Frederico de Brito / Ferrer Trindade
Repertório de Artur Garcia


Sempre que canto este fado sinto alegria
De recordar o passado da Mouraria
Lembrar aquelas velhinhas vielas
De tanta saudade
Que deviam ser, portanto
A graça, o encanto de toda a cidade

Velha Lisboa, dona do fado
Sabe cantigas daquelas antigas
Que fazem chorar
Duma canoa que o Tejo irado
Doido a levasse e p'ra sempre ficasse
Perdida no mar


Esta Lisboa garrida é mais Lisboa
Numa janela florida da Madragoa
No Bairro Alto do negro basalto
Mas cheio de fama
Ou naquele aspeto belo Que tem o Castelo
Vizinho de Alfama

Rapsódia

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Sem amor não passo bem
Sem fado passo pior
Procuro o que me convém
Troco por fado o amor

Anda o ciúme metido
Entre o fado e a paixão
E quando canto é sabido
Tenho zanga, há discussão

Mas não merece censura
Peito que o ciúme aquece
Quando o amor é de loucura
É que o ciúme acontece

Zanguei-me, pronto, acabou-se
Andei triste, é de supor
Mas fosse lá p’lo que fosse
À noite cantei melhor

Mas sabe bem, apetece
A razão desse azedume
Só quando o amor acontece
Acontece haver ciúme

E se termino zangado
Às vezes com o meu amor
Ponho-me a cantar o fado
Zangado, canto melhor

Zeca

Letra e música de Janita Salomé
Repertório de Filipa Pais


Quero falar-te, e o coração de comovido
Perde as palavras que juntara para ti
Cantar-te sei e apenas isso faz sentido
Menino de oiro, vem sentar-te aqui

Por todo o ano é tempo de cantar janeiras
Mulher da erva, ainda agora a vi passar
Por mar profundo, terra e todas as fronteiras
Venham mais cinco mil para te saudar

Pode o sol morrer de velho
Pode o gelo arder também
Mas a voz que de ti nasce
Já não morre com ninguém


No céu cinzento, o astro mudo ainda revela
Um bater de asas, o disfarce do seu pé
Bebem do sangue, comem tudo, olhai, cautela
O que faz falta, já se sabe o que é

Junta-te a nós, ó bairro negro, vem, falua
P'la noite fora até que se erga o sol do Verão
Solta as amarras, sopra, ó vento, continua
Que este homem não se foi embora, não

Fado vida

Letra e música de Cláudia Leal
Repertório da autora

Acalmo o coração ao fim do dia
Quando o sol se põe e a noite cai
Oiço o meu silêncio 
A gritar dentro de mim
Se o não fizeres
Ninguém vai fazer por ti

Tenho um esquecimento p’ra lembrar
Tenho uma lembrança p’ra esquecer
Sair desta tristeza 
É ter que deixá-lo ir
Ninguém prende um amor 
Que teima em partir

Percorro este caminho só e distante
Pisando as amarguras que o amor me fez
Peço ao vento norte
Pois eu não sei rezar
Talvez o vento peça a Deus 
P’ra me ajudar

Se teimas num caminho que não é o teu
A vida passa veloz, vai num instante
Agarra a tua vida 
E transforma a tua dor
Faz renascer dentro em ti 
O teu próprio amor

Lisboa é assim

José Fialho Gouveia / Luiz Caracol
Repertório de Rodrigo Costa Félix


Lisboa chora o fado e dança o samba
Sotaque e bossa nova nas vielas
De Angola vem o cheiro da Muamba
Amores que se vivem nas novelas

Cachupa e com ela um travo a morna
Mestiça, vai Lisboa na avenida
Mulata que ao dançar até transtorna
O Tejo quando a vê meio despida

Mestiça com encantos mais de mil
Jindungo e açafrão para o caril
Canções e mais sabores além do fado
Lisboa tem o mundo inteiro nela
Tem mar quando se olha da janela
No Tejo podes estar em qualquer lado;
Paris que fica ao lado de Berlim
A Graça é que Lisboa é assim


Nas ancas traz o beat do momento
Mas traz também o fado nas goelas
Às vezes há rodízio suculento
Mas há, p'ra quem quiser, iscas com elas

Da mesquita às igrejas tantas fés
Há sempre outro lugar para mais alguém
Há mais uma cadeira nos cafés
Lisboa é de quem vier por bem

Meu amor, diz-me em que esquina

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Meu amor, diz-me em que praça
Foi à praça o nosso amor
Confesso, não acho graça
Leiloar seja o que for

Meu amor, diz-me em que rua
E em que porta te escondeste
Não desisto de ser tua
Apesar do que fizeste

Meu amor, é uma calçada
A vida entre ti e mim
Ando a subi-la cansada
Mas irei até ao fim

Meu amor, diz-me em que esquina
Hei-de virar nossas vidas
Quero mudar-lhes a sina
De becos em avenidas

Fado sonhado

Carlos Bessa / Júlio Proença *fado proença*
Repertório de Luísa Nascimento


Minha mãe, graças a Deus
O meu sonho de menina
Está agora consumado
Sou feliz junto dos meus
Talvez sorte, talvez sina
Entreguei-me toda ao fado

Vejo em cada madrugada
Lágrimas de uma saudade
Quem em silêncio me escuta
Esta voz vinda do nada
Onde o fado é mais verdade
Conquistando cada luta

Que pena, minha mãe que pena
Quero-te aqui ao meu lado
P'ra poder cantar p'ra ti
Nesta paz calma e serena
Minha mãe, está consumado
Foi p’ró fado que eu nasci

Depois de ti

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Depois de ti não sei quantas
Cruzaram o meu caminho
Foram tantas, tantas, tantas
Que nem a soma adivinho

Hoje que todas passaram
Vejo que tu continuas
Pois juntas, não me deixaram
Saudades iguais às tuas

Agora sim dou valor
Ao ditado verdadeiro
Que diz que não há amor
Que se compare ao primeiro

Depois de ti, não sei quantos
Quantos amores conheci
Foram tantos, tantos, tantos
Que a conta já lhes perdi

O passeio dos tristes

Carlos Leitão / Paulo Paz
Repertório de Carlos Leitão


Batemos no peito, cantamos o hino
Ouvimos conversas à hora da bica
Juramos ‘star juntos, haja o que houver
Vendemos os sonhos a um euro destino
Que arregaça as mangas p’ra nos dar a pica
E dar cabo dos vivos, venha quem vier

À hora d'almoço, o noticiário
Diz o seu contrário num copo de vinho
Brindamos à urgência que agora fechou
E o Ronaldo, sózinho, foi quem nos salvou


Palestras d’amor e de auto-ajuda
Fiéis seguidores do mais perentório
Que posta e reposta por mais inclusão
Se é dia de greve, não há quem acuda
E a palavra d'honra é o contraditório
Dos tais veraneantes da abstenção

O jantar está na mesa, rezamos a Deus
Comemos os preços mais gordos do IVA
Amargos de boca são p’ra mastigar
É a experiência merecida por cá andar


E há uns paladinos que dizem saber
Dos novos caminhos que ‘stão por fazer
Dormimos com eles à espera que o dia
Dê graças à luz e à democracia;
E se a liberdade for condicional
Seguimos p'ra Bingo
Viva Portugal

O Júlio pescador

Carlos Bessa / Júlio Proença *fado proença*
Repertório de José Barbosa


Fez-se ao mar pela noitinha
Foi à pesca da sardinha
No barco Maria Estela
Nome de sua mulher
Que na vida tanto quer
E não deseja perdê-la

Já bem longe d’Afurada
No pulsar da madrugada
O Júlio põe-se a pensar;
Foi tudo, p’ra ser alguém
Seus pais que Deus lá tem
Disso podem se orgulhar

Assobia um lindo fado
Por Manuel Dias cantado
"Amor de pai" que é tão lindo
E enquanto ele vai pescando
As gaivotas vão cantando
E as estrelas reluzindo

Cansado, de manhãzinha
Na lota vende a sardinha
Co’a mulher no seu pregão
Grita alto o velho Roque
Filha do Quim do reboque
Mantém viva a tradição

Chega enfim, sábado à noite
O Júlio procura acoite
Numa tasca pequenina
Nessa noite ali há fado
Com a mulher a seu lado
Faz do fado a sua sina

Espera de toiros

Mote: Carlos Conde / Glosa: Henrique Rego / Popular fado corrido
Repertório de Manuel de Almeida
Esta letra, com o título original *Tarde de toiros* sofreu algumas 
alterações na gravação e para além disso a 2a estrofe não foi gravada

Nesse domingo de agosto
Foi linda a espera de gado
Desde manhã ao sol posto
Houve alma, Toiros e Fado

Manhã cedo ainda se ouviam 
Os roucos cantos dos galos
Já dos fogosos cavalos 
As guizeiras retiniam;
Os retiros já se viam 
Engalanados com gosto
E o Sol, no seu régio posto
Brilhante como um tesoiro;
Abria o seu leque d’oiro
Nesse domingo de agosto

Campinos de matacões 
Gente nobre, gente fixe
P’la Calçada de Carriche
Eram alvo de ovações;
Sob os fortes aguilhões 
O curro vinha domado
E o povo, entusiasmado
Dizia, de orgulho cheio;
Para os anais do toureio
Foi linda a espera de gado


Já tudo sabia ao certo
Que nessa tarde, Fuentes
Lidava toiros valentes
Das lezírias de Roberto;
O Sol era um lírio aberto
No manto do céu exposto
E o povoléu, bem-disposto
Vira passar, em tipóias;
Mulheres lindas como jóias
Desde manhã ao sol posto

Campanudo e Patusquinho
No retiro do Vilar
Encontravam-se a cantar 
Desde manhã, bem cedinho;
Dos tonéis corria o vinho 
Espumante, avermelhado
Tudo estava inebriado 
Tudo vivia num sonho
Pois nesse dia risonho
Houve alma, Toiros e Fado

Silêncio

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Silêncio, cala-te vento
Não chores mais p’lo caminho
Consente que este lamento
Feito do meu sofrimento
Chore no mundo sozinho

Silêncio, cala-te mar
P’ra quê bater nesse jeito
Se não chegas p’ra abafar
As penas do meu penar
No marasmo do meu peito

Silêncio, chuva que é tanto
O pranto dos olhos meus
Que até mesmo quando canto
É maior todo o meu pranto
Que todo o pranto dos céus

Silêncio, que a tempestade
Que em meu peito se agitou
Tem mais força, mais vontade
Porque é feita da saudade
Que um grande amor me deixou

Fado Toninho

Letra e música de Pedro da Silva Martins
Repertório do grupo *Deolinda


Dizem que é mau, que faz e acontece
Arma confusão e o diabo a sete
Agarrem-me que eu vou-me a ele
Nem sei o que lhe faço
Desgrenho os cabelos
Esborrato os lábios

Se não me seguram, dou-lhe forte e feio
Beijinhos na boca, arrepios no peito
E pagas as favas, eu digo "enfim”
Ó meu rapazinho és fraco p’ra mim


De peito feito ele ginga o passo
Arregaça as mangas e escarra pró lado
Anda lá, ó meu cobardolas
Vem cá mano a mano
Eu faço e aconteço
Eu posso, eu mando

Se não me seguram, dou-lhe forte e feio
Beijinhos na boca, arrepios no peito
E pagas as favas, eu digo "enfim”
Ó meu rapazinho sou tão má p'ra ti


Ó meu rapazinho eu digo assim
Se não me seguram dou cabo de ti

Feitiços do fado

Carlos Baleia / Arménio de Melo
Repertório de Adriano Pina


Rua que é de não sei quem
Onde existe um pelourinho
E os passos que dou, se calam
Espaço meu e de ninguém
Esta rua onde caminho
Com silêncios que me falam

A luz baça dos recantos
Sabe histórias sem ter fim
Da rua misteriosa
E há suspeitas que num canto
Onde há bancos de jardim
A rua é mais carinhosa

Tudo pode acontecer
Nesta rua que os meus passos
Não se cansam de pisar
Pode-se amar e nascer
Num viver de estranhos laços
E fatalmente, cantar

Rua louca, doida rua
Vinda do tempo passado
Em transportes de ilusão
Em ti passo à luz da lua
Quando os feitiços do fado
Me falam ao coração

Vidas sem sentido

Fernanda do Carmo / Franklim Godinho *fado franklim*
Repertório de Artur Batalha


Se nasci sem ter idade
Recuso-me a ser quem sou
Pois só conheço a verdade
No ventre que me gerou

Meu nome nasceu na voz
Num grito bravio, oculto
Transformou-se num algoz
Que se encarnou no meu vulto

Sou estátua onde o escultor
Não pôs traços de beleza
Pedra bruta sem valor
Que a natureza despreza

Quem desconhece os dilemas
De quem vive sem sentido
Não pode entender poemas
Do autor desconhecido

Tempo

Fernando Pessoa / Tiago Machado
Repertório de Liana


A terra é sem vida, e nada
Vive mais que o coração
E envolve-te a terra fria
E a minha saudade não

Leve sombra, vais no chão
A passar sem teres ser
És como o meu coração
Que sente sem nada ter

Ó tempo, tu que nos trazes
Tudo o que na vida vem
Porque não vens a matar
Quem já nem saudades tem

Duas vezes jurei ser
O que não julgo que sou
Só para desconhecer
Que não sei por onde vou

Se morrendo eu acabar
E nada restar de mim
Não t' esqueças de lembrar
Que só te esqueci assim

Natal

Vasco Lima Couto / Júlio Proença *fado esmeraldinha*
Repertorio de Jorge Baptista da Silva


A casa era uma gruta iluminada
Que falava as palavras do momento
Era o tempo da lei que se encontrava
No respirar dum terno pensamento

Os pequenos pastores riam à vida
Correndo escadas que iam ter a um rio
Abrindo a voz à sede apetecida
Brincando fomes que não tinham frio

Os velhos regressavam do céu liso
E paravam na fonte da alegria
Com seus olhos de rugas de sorriso
Para que o sol amanhecesse o dia

Era tão longo o coração do espaço
Entre animais de Deus que o barro aquece
Que a fortuna do amor era um abraço
Por isso é que o Natal nos apetece

Até sempre

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível


Quando chegar a hora da partida
Ordenada por Deus omnipotente
Quando os anjos cantarem nova vida
O meu fado talvez seja diferente

E quando for a festa do meu dia
No mundo imaginário que sonhei
Quero beber o vinho d’alegria
E abraçar os amigos que encontrei

Suspenso no meu fado, nem reparo
No tempo de marcar a minha vez
Quero morder o pão que me foi raro
Nesta minha passagem com vocês

Pátria

Miguel Torga / Tiago Machado
Repertório de Liana


Foste um mundo no mundo e és agora
O resto que de ti 
Já não posso perder
A terra, o mar e o céu
Que todo eu sei conhecer

Foste um sonho redondo e és agora
Um palmo de amargura retornada
Amargura que em mim
Também nunca tem fim
Por ter sido comigo batizada

Hoje…
Sei apenas gostar
De uma nesga de terra
Debruada de mar


Foste um destino aberto e és agora 
Um destino fechado
Destino igual ao meu
Amortalhado nesta luz
De incerteza e de certeza
Que vem do sol presente e do passado

O barco vai de saída

Letra e música de Fausto Bordalo Dias
Repertório de Fausto


O barco vai de saída
Adeus ó cais de Alfama
Se agora vou de partida
Levo-te comigo ó cana verde
Lembra-te de mim ó meu amor
Lembra-te de mim nesta aventura
P’ra lá da loucura
P’ra lá do equador

Ah! mas que ingrata ventura
Bem me posso queixar
Da pátria a pouca fartura
Cheia de mágoas. ai quebra mar
Com tantos perigos. ai minha vida
Tantos medos e sobressaltos
Que eu já vou aos saltos
Que eu vou de fugida

Sem contar essa história escondida
Por servir de criado a essa senhora
Serviu-se ela também tão sedutora
Foi pecado, foi pecado
E foi pecado sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa

Gingão de roda batida
Corsário sem cruzado
Ao som do baile mandado
Em terras de pimenta e maravilha
Com sonhos de prata e fantasia
Com sonhos da cor do arco-íris
Desvairas se os vires
Desvairas magia

Já tenho a vela enfunada
Marrano sem vergonha
Judeu sem coisa, sem fronha
Vou de viagem, ai que largada
Só vejo cores, ai que alegria
Só vejo piratas e tesouros
São pratas são ouros
São noites são dias

Vou no espantoso trono das águas
Vou no tremendo assopro dos ventos
Vou por cima dos meus pensamentos
Arrepia, arrepia
E arrepia sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa

O mar das águas ardendo
O delírio dos céus
A fúria do barlavento
Arreia a vela e vai marujo ao leme
Vira o barco e cai marujo ao mar
Vira o barco na curva da morte
Olha a minha sorte
Olha o meu azar

E depois do barco virado
Grandes urros e gritos
Na salvação dos aflitos
Esfola, mata, agarra, ai quem me ajuda
Reza, implora, escapa, ai que pagode
Reza tremem heróis e eunucos
São mouros são turcos
São mouros acode

Aquilo é uma tempestade medonha
Aquilo vai para lá do que é eterno
Aquilo era o retrato do inferno
Vai ao fundo, vai ao fundo
E vai ao fundo sim senhor
Que vida boa era a de Lisboa

Desejos

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Sempre que alcachofras queimo
Na noite de S. João
No mesmo desejo teimo
Voltar ao teu coração

E sempre que um malmequer
Desfolho em tua intenção
Desejo que um bem-me-quer
Me saia na solução

Sempre que o dia termina
Quando a noite se avizinha
Um desejo me domina
Que voltes de manhãzinha

Perto

Letra e música de Afonso Cabral
Repertório de Cristina Branco


Vi uma voz tão magra e seca
Um tom veloz, eternamente teu
Ouvi as tuas mãos pousadas na mesa
Um silêncio que solta "eu estou tão bem aqui"

Já nem preciso estar
Tão perto assim para te ver
Toquei no teu olhar
Sempre a espreitar o tormento
Pesado e invulgar

Tão cauteloso e ternurento
Provei as tuas palavras
Indecisas, noite fora
Já nem preciso estar
Tão perto assim para te ver

Ode às canções tristes

Carlos Baleia / Arménio de Melo
Repertório de Jorge Batista da Silva


Não sei se era jazz ou fado o que se ouvia
Nos sons que chegavam das noites friorentas
E se viriam da Bronx, Queens ou Mouraria
Em desassossegos de alma, tão pungentes

Não vi em redor latões com fogo ardendo
Consolando na noite a gente enregelada
Nem sombras que se fossem escondendo
Tão só vozes de fado ou jazz, a vir do nada

Porque cantam de tristeza os infelizes
Transformando fealdade em coisa linda
Pondo na sua dor doces matizes
E dando à alma uma ternura infinda?

Um som de jazz, em revolta, sufocado
Com notas de sofrimento ou ilusão
Vem irmanar-se a um estilar de fado
Em ladainhas da sua condição

Nítido, chega o fado/jazz de algodão
Do escravo, marinheiro, carregador
Cujas vozes de perto conhecem a paixão
E nela cantam seus segredos de amor

Mistérios musicais na noite desvendados
Solitárias dores de uma humanidade
Em nostálgicas notas, acordes magoados
Assim servidos numa taça de saudade

Tempos idos

Mote de J. Guimarães / Glosa de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quando uma guitarra harpeja
O fado – canção dolente
Sentimos o quer que seja
A chorar dentro da gente


Entre a guitarra e o passado 
Há tão grande afinidade
Que me parece a saudade
Ser irmã gémea do Fado;
Meu pensamento enlevado 
Num anseio que brotoeja
De alma triste que voeja 
Mais subtil que a fragrância;
Rompe as brumas da distância
Quando uma guitarra harpeja

Então, distante, esquecido
De mim próprio, do meu ser
Eis-me de novo a viver
Tudo o que tenho vivido;
E no brilho amortecido 
Do meu olhar que foi quente
Persuasivo, eloquente 
Arde esse antigo fulgor
Se alguém canta com amor
O fado – canção dolente

Recordar com devoção 
Um pretérito bendito
É conter o infinito 
No espaço dum coração;
Quando a eterna evocação 
Dum bem perdido se almeja
A alma risonha lampeja 
E num pulsar contrafeito
A bater dentro do peito
Sentimos o quer que seja

Manuel da Mota, Serrano
António Rosa, Ginguinha
Não pode a vida mesquinha 
Olvidar seu estro ufano;
O Fado é triste, é humano 
Evocativo, fremente
Por andarem tristemente 
Saudosas, meigas, discretas;
As almas desses poetas
A chorar dentro da gente

Vejam bem

Letra e música de José Afonso
Repertório do autor

Vejam bem
Que não há só gaivotas em terra
Quando um homem se põe a pensar
Quando um homem se põe a pensar
Quem lá vem
Dorme à noite ao relento na areia
Dorme à noite ao relento no mar
Dorme à noite ao relento no mar

E se houver
Uma praça de gente ma dura
E uma estátua
E uma estátua de febre a arder
Anda alguém
Pela noite de breu à procura
E não há quem lhe queira valer

Vejam bem
Daquele homem, a fraca figura
Desbravando os caminhos do pão
Desbravando os caminhos do pão
E se houver
Uma praça de gente madura
Ninguém vai levantá-lo do chão
Ninguém vai levantá-lo do chão

Fado do beijo

Hugo Costa / Viviane e Tó Viegas
Repertório de Viviane


Beija, mas sem me aleijar
Um beijo na cara deixa a desejar
Beijo que é beijo é como o desejo
Sonhar com um beijo e não acordar

Beija sem perdoar
À beira do Tejo
À porta de um bar
Porque te queixas
Dos beijos que beijas
E eu só te vejo
Beijar e beijar


Beija… é sem compromisso
Se os outros falarem não ligues a isso
Ai como eu desejo, chegado o ensejo
Prender-te num beijo e não te largar

Namoro

Viriato da Cruz / Fausto Bordalo Dias
Repertório de Fausto


Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
E com letra bonita eu disse que ela tinha
Um sorrir luminoso tão quente e gaiato
Como o sol de novembro brincando de artista
Nas acácias floridas
Espalhando diamantes na fímbria do mar
E dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia era sumaúma
Sua pele macia da cor do jambo
Cheirando a rosas, sua pele macia
Guardava as doçuras do corpo rijo
Tão rijo e tão doce como um maboque
Seus seios laranjas, laranjas do Loge
Seus dentes marfim
Mandei-lhe essa carta e ela disse que não

Mandei-lhe um cartão 
Que o amigo maninho tipografou;
Por ti sofre o meu coração
Num canto 'sim', noutro canto 'não'
E ela o canto do 'não', dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do sete
Pedindo e rogando de joelhos no chão
P’la Sra. do Cabo, p’la Sta Efigénia
Me desse a ventura do seu namoro
E ela disse que não

Mandei a avó Xica, quimbanda de fama
A areia da marca que o seu pé deixou
Para que fizesse um feitiço forte e seguro
Que nela nascesse um amor como o meu
E o feitiço falhou

Esperei-a de tarde à porta da fábrica
Ofertei-lhe um colar, e um anel e um broche
Paguei-lhe doces na Calçada da Missão
Ficámos num banco do Largo da Estátua
Afaguei-lhe as mãos, falei-lhe de amor
E ela disse que não

Andei barbado, sujo e descalço
Como um monangamba, procuraram por mim
não viu, ai não viu, não viu Benjamim
E perdido me deram no Morro da Samba

Para me distrair levaram-me ao baile
Do Sô. Januário, mas ela lá estava
Num canto a rir, contando o meu caso
Às moças mais lindas do Bairro Operário

Tocaram uma rumba e dancei com ela
E num passo maluco voamos na sala
Qual uma estrela riscando o céu
e a malta gritou 'Aí Benjamim'

Olhei-a nos olhos, sorriu para mim
Pedi-lhe um beijo, lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá
E ela disse que sim

Tenho olhos de saudade

Carlos Baleia / Arménio de Melo
Repertório de Margarida Soeiro


Tenho choro em minha alma
Algo que não sei explicar
Suave dor, doce e calma
Com vontade de cantar
Tenho olhos de saudade
Que me obrigam a amar

Tenho as palavras sofridas
De coisas que não entendo
E horas nunca esquecidas
Nas ilusões que vou tendo
Tenho olhos de saudade
No fado que vou vivendo

Tenho Tejo, céu e mar
Uma cidade encantada
Tenho alma para chorar
Não preciso de mais nada
Tenho olhos de saudade
Numa guitarra abraçada

Tenho um falar especial
Partilhado, vagabundo
Que não sendo nunca igual
É português bem profundo
Tenho olhos de saudade
E um fado maior que o mundo

Coração peregrino

*Manhã fria*
Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Manhã fria, nevoeiro
Abandono, solidão
Donde vens tu caminheiro?
P’ra onde vais coração?

Neste sombrio caminho
Andas perdido decerto
Tão distante do carinho
E da desgraça tão perto

Eu não sei o que procuras
Mas não te invejo a jornada
Andar na vida às escuras
É andar buscando o nada

Se é o amor que te faz
Solitário peregrino
Caminha porque és capaz 
De chegar ao teu destino

Na língua de Camões

Tiago Torres da Silva / Dulce Pontes
Repertório de Dulce Pontes


Não te posso amar
Sem te perguntar se já foste rio
Se és irmão das areias e das conchas
E dos peixes e do mar
Sou irmã do vento
O meu pensamento só se faz canção
Ao sentir-se irmão do que quer cantar

Ao olhar p’ra ti
Sei que te escolhi porque foste rio
Dei as mãos aos abraços e a boca
Aos beijos que eu ousei sonhar
Sou irmã de tudo, amor
O meu canto é mudo, amor
Se eu não conseguir
Chorar e sorrir sempre que cantar

Mas eis que o coração se torna transparente
Eis que o coração
Abriga os temporais que nascem no mar
E tudo é ser capaz de traduzir
Na língua das canções
Na minha voz, na tua voz
O som da água a passar

Fogaça, senhora minha

António Laranjeira/José Marques *fado triplicado*
Repertório de Lino Lobão


Foi no castelo da feira
Que uma linda fogaceira
Conheceu um trovador
Com profunda devoção
Fez a São Sebastião
Prometer o seu amor

Levando no seu regaço
Rosas vermelhas do paço
Vai ao palácio real
Fez bandeiras de papel
Rosas de Santa Isabel
Rainha de Portugal

Terras de Santa Maria
Condado da feira um dia
Aclama o voto sagrado
A fogaça pão de amor
Na mesa do lavrador
Tem por Deus o seu reinado

Fogaça, senhora minha
Em janeiro és rainha
Do teu povo trovador
Por decreto ou tradição
Vai o reino em procissão
Celebrar o teu sabor

Quadras do desdém

*do desprezo, da ironia*
Autor: Silva Tavares
Do livro Quem Canta, 1923
Versos transcritos do livro editado pela 
Academia da Guitarra e do Fado

Se é certo estar-te doendo
O coração, sinto bem
Que já se viva sofrendo
Daquilo que se não tem

D’andar contigo um mês todo
Pasmam pessoas amigas
Mas quem se atasca no lodo
Não sai com duas cantigas

Agora já não há meio
De reviver nosso amor
De graça, seria feio
Pagando, tenho melhor

Qu’importa que tu agora
Tenhas outro em meu lugar?
Aquilo que deito fora
Qualquer pode arrecadar

Já chorou por não ter cama
Tem carruagem, já ri
Ri, mas salpica de lama
Quem passa junto de si

Estava-te o padre casando
Disse alguém, nesse momento
Vão do batismo tratando
Deixem lá o casamento

Diga o mundo o que quiser
Mas, quer em casa ou nas ruas
Melhor do que uma mulher
Não há nada, como duas

Atrás dos meus cortinados

João Monge / João Gil
Repertório de Hélder Moutinho


Atrás dos meus cortinados
Estamos os dois condenados
Um ao outro a horas mortas
Se é a Deus que isto se deve
Ele lá sabe o que escreve
Direito por linhas tortas

Falam de nós, eu bem sei
Deste amor fora da lei
Sem destino nem altar
Somos a rosa colhida
No lado escuro da vida
Que só se dá ao luar

Não te sintas obrigado
A prometer que a meu lado
Nunca mais te vais embora
Atrás dos meus cortinados
Estamos os dois obrigados
A ser imortais agora

Falei-te longamente

Carlos Baleia / Arménio de Melo *fado graça*
Repertório de Jorge Batista da Silva


Falei-te longamente, sem palavras
No olhar aflito, preso ao teu olhar
E as minhas ilusões morreram escravas
Do teu adeus que não pude evitar

Explodiu em revolta a Natureza
Na raiva da partida injusta e má
Tempestade de dor e da certeza
De que posso morrer, ficando cá

Não sei se teu partir tem outras terras
Ou se partindo, ficas, indiferente
Sei que no peito sofro duras guerras
Que em mim querem viver eternamente

Digo hoje as palavras que calei:
Grito-as ao mar, ao vento e a quem passa,
Para que o mundo saiba como amei
E como quem amei, me deu desgraça

Disse-te adeus sem saber

Letra de Silva Tavares
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Disse-te adeus, sem saber
Aquilo que sei agora:
Adeus não custa a dizer
O que custa é ir embora


Aquele adeus que eu te disse
Se pudesse desdizê-lo
Talvez nunca o repetisse
Ai! meu amor, podes crê-lo;
Foi preciso que fugisse
De ao pé de ti, a correr
Não sabia o que fazer
Nem sabia, meu encanto;
Que um adeus custava tanto
Disse-te adeus, sem saber

Desde então, eu, orgulhoso
Tu – orgulhosa como eu
Vivemos fora do céu
Do nosso sonho amoroso;
Num inferno pavoroso
Tombámos naquela hora
Só ciúme me devora
Só sinto torva agonia;
Por não saber, nesse dia
Aquilo que sei agora

Sei, embora tal não digas
Que vives contrariada
Que casaste despeitada
Que sabes que me castigas;
Sei que a dor a que me obrigas
Te faz também padecer
Que não consigo esconder
Que sou servo dos teus servos;
Tudo isto porque, com nervos
Adeus não custa a dizer

O que custa, se te vejo
E calar meu sofrimento
É fingir contentamento
É disfarçar o desejo;
O que custa, pois invejo
Aquele que hoje te adora
É ver-te andar, cá por fora;
Sorrindo, d’olhos em brasa
E, depois que entras em casa
O que custa é ir embora

Um velho fado, encontrei

Carlos Baleia / Arménio de Melo *fado baleia*
Repertório de Adriano Pina


O meu fado anda sem sono
Preso na sombra que passa
Sombra ligeira e sem dono
Como ele ao abandono
Pelas ruas que tem a Graça

E ao caminhar pelas calçadas
Sabe Deus atrás de quem
Meu fado sobe as escadas
Onde ficaram gravadas
As sombras que a vida tem

Quando, já na Mouraria,
Em passos andou perdido
Pela rua estreita e sombria
Viu que outro fado vivia
Longe de tudo, escondido

Era um fado de Malhoa
Quadro ou fantasma acordado
Que ali ou na Madragoa
Ao cantar, era a Lisboa
Ciosa do seu passado

E esse canto que eu ouvi
Nessas sombras da cidade
Deu-me, Lisboa, de ti
Recados que deixo aqui
De um fado com outra idade

Desenhei-te na memória

Vasco Lima Couto / Alfredo Duarte *fado pájem*
Repertório de Jorge Baptista da Silva

Desenhei-te na memória
Que tanta vida me esconde
Afirmaram que existias
Sei que existes, não sei onde

Na minha voz há uma lenda
Que não pertence a ninguém
E no coração um sol
Que não aquece o que tem

Não me digas ao deixar-me
Que me deixas, meu amor
Diz que me levas nos olhos
Com a sombra duma flor

O teu rosto é como a noite
Que envolve o cair do dia
Fecha todos os jardins
E abre a minha fantasia

Foi hoje

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Perguntei hoje à saudade
Se era por ti que chorava
Disse que não e que andava
Comigo contra vontade

Perguntei aos olhos meus
Se dos teus se recordavam
Vi bem que não se lembravam
Dizendo: valha-te Deus

Aos meus braços e abraços
P’los teus braços perguntei
Ambos disseram: não sei
Desprendidos desses laços

Por isso hoje decidi
Mandar a saudade embora
Foi hoje e a partir d’agora
Já não me lembro de ti

Tenho a alma cheia de mar

Carlos Baleia / Arménio de Melo *fado invicto*
Repertório de Nadine Brás


Tenho a alma cheia de mar
Com ondas de perdição
Coração a transbordar
Em marés de uma paixão
Tenho vaivéns de ternura
Com medos de naufragar
A viver numa aventura
Com alma cheia de mar

Tenho ondas á cintura
Presas por algas marinhas
E uma rota de procura
Das emoções que eram minhas
Tenho cantos de atracão
Sem apelos à doçura
Onde um mar em turbilhão
Me pôs ondas à cintura

Tenho um amor à deriva
Pronto a bater nas rochas
Numa traineira furtiva
Onde falta a luz das tochas
Tenho a certeza banal
A rezar para que viva
E escape do temporal
Este amor que anda à deriva

Noite, onde vais cheia de pressa?

Kalaf Epalanga / Mário Laginha
Repertório de Cristina Branco

Noite, onde vais cheia de pressa?
Não, não me saias daqui sem mim
O sol, ainda é a esfera de espelhos
E dançar fica-nos tão bem

O escuro, o vestido, o cálice
E uma mão de homem
A folha caída no meu dorso
E que navega às cegas

Meus olhos não pedem nada
Minha boca... esta sim
Quero que me mintas
Com esta alvura com que sorris

E se eu me chamasse rua
Seria uma rima toante
Seria hoje uma saudade
Que se esqueceu no cais

Num beijo disse-te adeus

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Num beijo disse-te adeus
E nesse beijo, meu Deus
Disse adeus à minha vida
Se vivo, não o desejo
Desde a hora desse beijo
Que foi nossa despedida

Num beijo, um beijo terno
Troquei o céu p’lo inferno
Fiz de mim sombra do que era
Quem diria, quem diria
Que um beijo trocaria
Por Inverno a Primavera

Num beijo, num beijo apenas
Parei as horas serenas
Da minha felicidade
Numa agonia constante
É que vivo desde o instante
Que abri meu peito à saudade

Andam palavras fugindo

Carlos Baleia / Arménio de Melo
Repertório de Nadine Brás


Andam palavras fugindo
Com medo do que adivinham
E na fuga vão sentindo
Que a morte de um sonho lindo
São penas que se avizinham

Palavras que em vendaval
A cavalgar sentimentos
Numa corrida infernal
Sem começo nem final
São donas dos meus tormentos

Tão longe de mim andaram
Tão distantes da razão
Que sem palavras ficaram
Meus lábios, que assim deixaram
Fugir teus beijos de então

Secou a flor que era tua
Deste-me cardos para a vida
E as palavras vão pela rua
Falam de ti com a lua
Na noite triste e comprida